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domingo, 20 de outubro de 2019

Midsommar: O Mal Não Espera a Noite

O subtítulo de “Midsommar: O Mal Não Espera a Noite” não faz jus à obra do cineasta Ari Aster. Em sua essência o filme é de terror e suspense, mas o diretor não está interessado em sustos fáceis ou deixar o espectador com medo. Aster não quer saber de regras ou convenções do gênero, mas sim na narrativa e nos personagens. Estamos diante de um drama, uma grande alegoria sobre relacionamentos, sobre como lidar com a perda de entes queridos, mas também de um choque de cultura, principalmente em relação a religião.

Midsommar é uma obra ambiciosa, que está interessada em levar o espectador além do lugar comum. Ao quebrar os principais paradigmas do que se espera de um filme de terror ele cria um filme que vai além dos gêneros. Uma história cheia de camadas, mas que em sua essência entrega uma história simples e universal sobre o relacionamento entre seres humanos.

Assim como em Hereditário, seu filme anterior, Ari Aster nos apresenta uma protagonista feminina que tem que lidar com a perda de entes queridos. Em Midsommar acompanhamos a jornada de Dani Ardor (Florence Pugh), uma jovem que está em um relacionamento “distante emocionalmente” com Christian Hughes (Jack Reynor), e tem que lidar com a morte da irmã e dos pais. Essa fatalidade faz com que o relacionamento amoroso do casal continue, já que o rapaz não tem coragem de terminar com a moça.

Christian é um antropólogo e junto com mais 3 amigos resolve viajar para a Suécia a convite de um dos amigos, que é de uma pequena vila no interior do país que vai realizar uma festa para comemorar o solstício. Essa seria a oportunidade perfeita para ele continuar seus estudos e também fugir do relacionamento, ainda que temporariamente, contudo Dani resolve embarcar na aventura junto com o grupo.

O grande mistério da narrativa gira em torno dessa comemoração no interior da Suécia. Algumas das tradições parecem muito chocante para nós, mas com certeza muitas das nossas também sejam absurdas para eles. O grande trunfo de Midsommar é explorar essas nuances, sem pressa, construindo a narrativa em torno dos detalhes e da construção dos personagens. Tudo que vemos na tela tem algum simbolismo, ou alguma explicação para algo que veremos mais na frente, e essa é a grande genialidade da obra de Ari Aster.

Esse desenvolvimento do suspense e da tensão em torno da estranheza e do choque de cultura é fascinante, especialmente quando vemos o ponto de vista dos personagens, já que cada um lida com a situação de maneira diferente. E para isso funcionar o elenco faz um trabalho impressionante, onde o principal destaque é da protagonista Florence Pugh. Suas expressões faciais dizem muito sobre a personagem e é interessante acompanhar seu desenvolvimento, de uma mulher meio apática, até se render ao seu lado mais instintivo.
Para completar, Midsommar também apresenta um primor técnico de alto nível. A fotografia é belíssima, principalmente ao explorar a beleza natural do lugar, mas também nos movimentos de câmera, especialmente em cenas mais longas e sem cortes. A montagem é fluída e usa diversas rimas visuais para compor a narrativa, e também utiliza cortes precisos nas cenas para quebrar a narrativa de forma especial. E fechando temos a trilha sonora de Bobby Krlic que explora muito bem tons musicais nativos da cultura sueca com sons naturais junto com elementos de suspense e tensão, criando temas originais e eficientes no suporte necessário do sentimento que o filme precisa.

Midsommar: O Mal Não Espera a Noite” é basicamente um filme de terror, mas em poucos momentos ele deixa claro para o espectador que é disso que ele se trata. A obra de Ari Aster não se ancora nas regras do gênero, mas sim na soma de todos eles em pró da construção da narrativa que o cineasta quer apresentar. Essa quebra de paradigmas pode ser um choque para o espectador e também uma decepção para aqueles que esperavam uma obra comum. Por outro lado é possível também causar uma grande surpresa e extrair sentimentos não esperados, que não ficam apenas em tentar dar sustos, mas sim desenvolver um clima em torno da estranheza, principalmente através do contato com culturas diferentes. No entanto, o principal tema do filme é sobre o comportamento humano, já que outra forma de resumir Midsommar seria defini-lo como um drama sobre relacionamentos. E a relação entre um casal também pode ser muito peculiar, por mais simples que pareça na superfície.

Classificação:

Título Original: Midsommar (EUA, Suécia, 2019)
Com: Florence Pugh, Jack Reynor, William Jackson Harper, Vilhelm Blomgren e Will Poulter
Direção: Ari Aster
Roteiro: Ari Aster
Duração: 147 minutos

Um comentário:

Clara disse...

Hummmm, terror eu não curto... Não incluirei na lista...