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sexta-feira, 8 de março de 2024

Pobres Criaturas

O diretor Yorgos Lanthimos apresenta uma fábula fascinante em “Pobres Criaturas”, onde a protagonista Bella Baxter (interpretada por Emma Stone) aprende sobre empoderamento feminino, enquanto lida com diversos homens que a cercam e que de alguma forma tentam controlá-la.

Bella é uma mulher que nasce através de uma experiência conduzida pelo Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe). Logo no início vemos a personagem pulando de uma ponte, mas não sabemos nada sobre o seu passado. O doutor Baxter a resgata e a traz de volta a vida, agora com um novo cérebro. Mais detalhes sobre o procedimento são apresentados durante a narrativa, mas quanto menos o espectador souber é melhor para apreciar a descoberta das surpresas da história.

A forma como Emma Stone desenvolve Bella é impressionante. No início vemos ela como se fosse uma criança no corpo de mulher, enquanto aprende a se comunicar e a andar. A forma como a atriz constrói essa evolução da protagonista é maravilhosa. O trabalho corporal é incrível e é interessante acompanhar essa evolução.

O primeiro homem que a controla é o doutor Baxter, que ela carinhosamente chama de God (deus). Depois surge Max (Ramy Youssef), aluno de Godwin, que o ajuda a observar sua “experiência”. Ele se interessa romanticamente por Bella, decide ficar noivo dela, e claro que resolve tentar controlá-la.

Por último temos o bom-vivant Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), que leva Bella para uma viagem pelo mundo. Assim começa de verdade a jornada da protagonista em busca de conhecimento e na construção da sua personalidade e caráter. Não por acaso a partir desse ponto o filme ganha cores, deixando de ser preto-e-branco, mostrando visualmente a grande mudança na vida da personagem. O interesse de Duncan inicialmente por Bella é puramente sexual e é curioso ver o descobrimento do sexo por parte dela.
Através da jornada de Bella o roteiro de Tony McNamara, adaptando o livro de Alasdair Gray, explora diversos temas do universo feminino. A escolha de situar a trama em um ambiente retrofuturista é interessante, pois deixa a narrativa atemporal. A fotografia de Robbie Ryan explora bem os belos cenários e usa bastante lentes grandes angulares e o “olho de peixe” para criar um tom de estranheza no espectador. Esses elementos são marcas da filmografia de Yorgos Lanthimos.

Outro elemento importante é a fantástica trilha sonora de Jerskin Fendrix, que através de sons dissonantes de piano e principalmente de violino, ajudam na construção do tom da narrativa. Os temas acompanham bem a evolução na jornada da protagonista.

O figurino de Holly Waddington contribui também na construção da personalidade da protagonista. Eles possuem um estranhamento, que é refletido em todos os outros elementos de “Pobres Criaturas”, mas ao mesmo tempo tem uma beleza peculiar.

Dessa forma, “Pobres Criaturas” se transforma em um grande filme, que faz um fantástico estudo de personagem. O tom fabulesco proporciona boas risadas, em um filme que diverte e nos faz refletir sobre a forma como a mulher é vista na sociedade e como lida com o machismo estrutural e o patriarcado.

Classificação:


Título Original: Poor Things (Reino Unido, Irlanda, EUA, 2023)
Com: Emma Stone, Mark Ruffalo, Willem Dafoe, Ramy Youssef, Christopher Abbott e Jerrod Carmichael
Direção: Yorgos Lanthimos
Roteiro: Tony McNamara
Duração: 142 minutos

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