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domingo, 12 de fevereiro de 2006

Johnny e June

Os filmes biografia estão cada vez mais comuns, e agora principalmente os baseados na vida de músicos. Se ano passado o homenageado foi Ray Charles, quem ganha vida nas telas esse ano é o cantor Johnny Cash no filme “Johnny e June”. Figura não tão conhecida aqui no Brasil quanto seus contemporâneos Jerry Lee Lewis e Elvis Presley, mas com uma carreira de bastante sucesso e importância musical lá nos Estados Unidos.

Nas mãos do diretor James Mangold (“Identidade” e “Garota Interrrompida”), o filme segue uma fórmula básica, sem muitas inovações e até certo ponto competente, com o roteiro centrando na parte inicial da carreira de Cash, mostrando um pouco de seus problemas familiares na infância em flashback, com uma excelente reconstituição de época coisa e tal. Isso tudo intercalado com as apresentações musicais, as partes mais legais é claro.

O grande diferencial e grande mérito do filme fica por conta de seus atores principais. Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon, respectivamente como Johnny Cash e June Carter, tem atuações impressionantes, no limite da reencarnação. O esforço de ambos foi tanto que eles mesmos cantaram as músicas do filme e também aprenderam a tocar para melhor representar seus papéis. Não foi à toa que ambos foram indicados ao prêmio de melhor ator e atriz no Oscar desse ano. O filme também recebeu mais três indicações a prêmios técnicos (figurino, edição e edição de som). Eles tiveram seis meses de aula de canto de preparação. Inclusive Johnny e June de verdade, antes de morrerem, aprovaram a escolha dos atores para os papéis.

Aproveitando a moda dos filmes biografia, claro que fica a desculpa para um revival do artista com o lançamento de inúmeros cds, coletâneas e dvds. Claro que nem sempre isso acaba sendo feito de propósito. Ano passado a banda carioca Matanza lançou um cd dualdisc (um lado do disco é cd e outro é dvd) com um tributo a Johnny Cash chamado “To hell with Johnny Cash”. Algumas das músicas presentes no disco podem ser conferidas no filme como “Cry, cry, cry” e “Home of the blues”. Talvez se eles fossem mais “aproveitadores” tivessem esperado para lançar esse trabalho perto do lançamento do filme aqui no Brasil. A homenagem acabou ficando bem legal inclusive.

Alias, aqui no Brasil para facilitar a venda do filme para o público, foi adotado esse nome “Johnny e June”, para que pudesse ser associado a uma simples história de amor. Inclusive o cartaz foi totalmente modificado do original. O título em inglês é “Walk the line”, e o cartaz original tem um design bastante interessante. Pena não ter sido aproveitado por aqui.

E muitos outros filmes sobre músicas estão em fase de produção. Deve rolar filmes sobre Marvin Gaye, Keith Moon (do The Who), entre outros. Afinal de contas, enquanto a fórmula continuar dando certo, os estúdios irão continuar aproveitando.

Para as pessoas que conhecem e gostam dos músicos em questão a coisa funciona bem melhor. Talvez para aqueles que os desconhecem, com o uso e abuso dessas fórmulas, acabe até ficando a impressão de “eu já vi esse filme”. Pelo menos essa é a impressão que fica se compararmos, por exemplo, esse filme com “Ray”. A estutura e construção do filme, até a redenção final dos personagens principais, acabam soando bastante parecidas. Esse pelo menos é bem menos melodramático.

No final das contas, o filme vale pela história de vida Cash, pelas atuações e também pelas músicas. Isso já é o suficiente para ser bom. Claro que em alguns aspectos citados ele acaba pecando, mas isso não chega a comprometer por completo. Tudo bem, ele podia ser um pouco menor também.

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