O livro Moby Dick escrito por Herman Melville em 1851 é sem dúvidas um dos grandes clássicos da literatura (eu até tenho, mas até hoje não parei para ler). O que talvez muitos não sabiam, inclusive esse que vos escrever, é que o escritor se inspirou em fatos reais para escrever a obra. O roteiro escrito por Charles Leavitt é baseado no livro de Nathaniel Philbrick que conta essa história.
Em “No Coração do Mar” iremos acompanhar Melville (interpretado por Ben Whishaw) ouvindo de Thomas Nickerson (Brendan Gleeson), o último marinheiro ainda vivo que sobreviveu ao naufrágio do navio baleeiro Essex ocorrido em 1820, contando sobre o ocorrido. Contar a história também funciona como uma espécie de terapia, já que Thomas até hoje não tinha contado para ninguém, nem mesmo sua esposa, detalhes sobre o que aconteceu.
Então a história vai sendo contada em flashback onde encontramos Owen Chase (Chris Hemsworth) que pretendia ser o capitão do navio, mas quem assume o comando é o Capitão George Pollard (Benjamin Walker). Surge daí um conflito entre os dois que não deixa de ser uma metáfora entre a luta de classes de ricos versus pobres.
Howard construiu em “Rush” muito bem a rivalidade a rivalidade entre os pilotos de fórmula 1 James Hunt (interpretado também por Chris Hemsworth) e Niki Lauda. Mas aqui ele não consegue fazer algo parecido e interessante entre o Capitão Pollard, que assumiu o comando graças ao nome da família apesar da inexperiência, e o primeiro imediato Chase , que é de uma família camponesa e apesar de ter bastante experiência não conseguiu a vaga de capitão. Logo no inicio da expedição vemos esse conflito de poder quando o capitão assume uma posição arrogante mesmo não parecendo a melhor coisa a se fazer ao mandar seus comandados realizarem determinada manobra, apesar da contestação de Owen que baixa a cabeça e faz o que foi mandado. Tudo soa apenas correto, sem a profundidade que a história poderia ter.
Essa falta de profundidade, apesar da clara aspiração em alcançar, é que acaba prejudicando o filme. Outro exemplo é quando a tripulação encontra com a baleia branca. O roteiro poderia tentar explorar melhor a relação do homem versus a natureza, que é um dos principais temas do livro Moby Dick. Mas a história fica na dúvida entre manter a realidade da época em que as baleias eram caçadas em busca do óleo sem pensar nas consequências, enquanto Owen ao mesmo tempo mostra alegria ao sair a caça de baleias, mas tem também um pouco de pena pelo sofrimento do animal. Até o momento de epifania dele em relação ao animal acaba soando artificial.
Já na parte técnica um detalhe me incomodou. Em filmes 2D como não existe a profundidade, os cineastas usam a mudança de foco entre os personagens (ou objetos) na tela para dar essa sensação de aprofundamento. O nome disso é rack focus (nerd). Num filme 3D teoricamente isso não seria necessário, mas os diretores continuam usando isso mesmo assim. Talvez já pensando que o filme também vai ser lançado em 2D, principalmente no mercado de home video. Isso me incomoda e me deixa com dor de cabeça. Descobri recentemente que esse era o motivo de sair com esse incomodo após a sessão de alguns filmes em 3D e aqui foi mais um caso.
Apesar desse problema a fotografia é boa. Em outros momentos o uso do 3D funciona, apesar de muitas vezes alguns objetos estarem na frente da câmera apenas para justificar o uso da profundidade. Mostrar alguns detalhes da cena em closes ajuda a situar melhor o espectador no universo do filme. Os efeitos visuais também ajudam nessa imersão, apesar de em alguns momentos soar um pouco artificial (mas esse é o grande dilema dos efeitos visuais de computação gráfica). Algumas cenas embaixo da água chamam a atenção pela sua beleza.
A trilha sonora de Roque Baños é competente, mas em alguns momentos soa um pouco genérica sem conseguir ser marcante. Mas segue o padrão de direção de Ron Howard por geralmente ser competente, mas sem nem sempre conseguir ser brilhante e muito inspirada. E essa é a sensação que fica no filme após assistir “No Coração do Mar”. Uma história que tinha bastante potencial para ser explorada de forma mais detalhada e aprofundada que acaba se tornando algo sem muito brilho e comum.
Com: Chris Hemsworth, Tom Holland, Benjamin Walker, Ben Whishaw, Cillian Murphy, Frank Dillane, Charlotte Riley, Jordi Mollà, Donald Sumpter, Joseph Mawle, Michelle Fairley e Brendan Gleeson
Direção: Ron Howard
Roteiro: Charles Leavitt
Duração: 121 minutos
Nota: 2 (regular)
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