“Lady Bird: É Hora de Voar” é um estudo de personagem fascinante, que mostra de forma bem interessante o processo de passagem pela adolescência até o início da vida adulta. Iremos acompanhar a jornada de Christine "Lady Bird" (Saoirse Ronan) durante o período de um ano. Nesse tempo a jovem lida com suas próprias mudanças de pensamento e nas escolhas que irão definir o seu futuro, mais especificamente definir a universidade que irá estudar.
Todos nós passamos (ou alguns ainda irão passar) por esse processo e sabemos que não é um caminho fácil. Muita vezes aprendemos com os nossos próprios erros. As mudanças que queremos podem nos fazer enxergar quem realmente somos. Tem momentos que queremos mudar de cidade, fazer coisas diferentes, apenas para tentar provar a nós mesmos que nem sempre o que fazemos com frequência nos define. E essa busca acaba nos fazendo pensar na nossa própria personalidade, mesmo que ela esteja em constante evolução.
A diretora e roteirista Greta Gerwig constrói a jornada da protagonista com uma sensibilidade incrível. É difícil não se emocionar ou se identificar em alguns momentos com a vida de Lady Bird. A começar pela própria escolha do seu novo nome, sem querer ser chamada pelo nome de nascimento. Essa é uma das formas que a garota enxerga o inconformismo com a própria vida, por exemplo, reclama da cidade onde mora, porque nada de interessante acontece.
Entretanto, o maior conflito de Lady Bird é com sua própria mãe. A relação passivo-agressiva entre as duas é o grande destaque da narrativa. O trabalho das atrizes é fabuloso. Fica claro que existe amor entre elas, mas também é evidente que muitas vezes as duas não são capazes de expressar seus sentimentos de forma clara. Na maior parte dos momentos fica essa ambiguidade. Principalmente do lado da mãe, que não parece ser capaz de dar aquela palavra de apoio à filha e está sempre criticando as escolhas da garota. Já do lado de Christine, existe a dificuldade de entender que de certa forma tudo isso que a mãe fala é para o seu próprio bem. Saoirse Ronan e Laurie Metcalf estão brilhantes e constroem essa dinâmica de mãe e filha de forma excelente.
Outra relação importante dentro do filme são as amizades. A melhor amiga de Lady Bird é Julianne Steffans (Beanie Feldstein), que também escolheu seu próprio nome: Julie. As garotas sempre fazem tudo juntas e contam tudo uma para a outra. E em uma época ainda pré-Internet e celulares (a trama se passa no início dos anos 2000), a troca de experiências entre elas é importante, principalmente em relação às descobertas amorosas. Suas respectivas mães não as apoiam em suas atitudes, só sobram uma a outra para ter esse tipo de apoio. Entretanto com a mudança de gostos e atitudes, o relacionamento delas também será colocado em prova. Uma boa jornada de adolescente também tem que envolver uma grande amizade, e seus altos e baixos.
A montagem do filme é muito eficiente na passagem do tempo e à cada cena é possível perceber o avanço em alguns detalhes, sejam em datas festivas ou em eventos específicos, com o baile de formatura. Mas o melhor é a forma que a diretora apresenta ciclos bem interessantes na narrativa. Um exemplo é o longa começar e terminar em uma igreja. Esse local tem um simbolismo muito importante na jornada de Lady Bird.
Talvez a cena que represente melhor a jornada da personagem é quando a protagonista está andando com Julie pela cidade que moram e observando as casas. Cada uma representa algum sonho, com a maior e mais bonita simbolizando a concretização em ser bem sucedida na vida. Mas quando Christine chega em outra cidade e tenta analisar as casas e prédio sem sucesso, ela percebe que a vida não é tão simples assim e que a chegada a vida adulta é apenas o início dos seus “problemas”.
Greta Gerwig faz em “Lady Bird: É Hora de Voar” um trabalho maravilhoso. Uma história sobre mulheres e também escrita e protagonizada por elas. A forma como ela apresenta esse universo feminino é de uma enorme sensibilidade. A jornada da protagonista tem diversos simbolismos sobre o próprio ciclo da vida. E a adolescência é um ótimo momento para retratar a constante mudança do seu humano. Um filme simples, belo e emocionante. As atuações, principalmente de Saoirse Ronan, transformam o longa em um trabalho fantástico.
Título Original: Lady Bird (EUA, 2017)
Com: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts, Lucas Hedges, Timothée Chalamet, Beanie Feldstein, Stephen McKinley Henderson e Lois Smith
Direção: Greta Gerwig
Roteiro: Greta Gerwig
Duração: 94 minutos
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