“Pantera Negra” inicialmente pode parecer apenas mais uma produção da Marvel para os cinemas, mas o filme de Ryan Coogler tem extrema importância nos dias de hoje por causa de sua representatividade. Os principais envolvidos no longa são negros: o protagonista, a maioria do elenco, o diretor e o roteirista. Somente isso já seria o suficiente para encher essa obra-cinematográfica de elogios, mas felizmente o que não falta para ela são motivos para congratulações.
O primeiro motivo é que Coogler conseguiu escrever, junto com Joe Robert Cole, uma história de origem de personagem que foge aos principais clichês desse tipo de narrativa. Felizmente, o Pantera Negra foi introduzido no universo Marvel dos cinemas em "Capitão América: Guerra Civil" então o diretor teve mais liberdade para apresentar melhor os elementos em torno dele. A jornada de T'Challa (Chadwick Boseman) começa logo após a morte do seu pai. Ele está se preparando para assumir o comando de Wakanda e tem dúvidas se será capaz assumir o cargo.
O filme nos apresenta o universo de Wakanda, um país que é extremamente avançado em todos os sentidos, principalmente tecnológicos, graças ao vibranium: um metal muito poderoso e resistente. Para se ter uma idéia, ele é o material de fabricação do escudo do Capitão América. Só que o país não compartilha os benefícios do material com o resto do mundo. Para as outras civilizações a nação vive da agricultura. O principal dilema de T'Challa é se sua terra natal deveria ou não ajudar o restante da Terra, principalmente a população negra. O risco é que caso o conhecimento seja compartilhado, poderia chamar a atenção de gananciosos para o lugar, colocando em perigo seus habitantes.
Uma das pessoas que sabe a verdade sobre Wakanda é Ulysses Klaue (Andy Serkis), que também apareceu em Guerra Civil. Ele é a ameaça inicial que o Pantera Negra irá enfrentar, mas o roteiro é inteligente em guardar o verdadeiro vilão para ser apresentado depois. Erik "Killmonger" Stevens (Michael B. Jordan) é um dos destaques da história, principalmente porque ele consegue superar um dos principais problemas dos filmes da Marvel; apresentar inimigos que sejam tão interessantes quanto os heróis. Killmonger tem uma motivação muito digna, apesar de seus métodos serem radicais. A depender do ponto de vista, ele poderia inclusive ser interpretado como o verdadeiro herói da história. O filme explora muito bem o conflito entre ele e T'Challa, investindo em temas atuais e relevantes como política, guerra, refugiados, e claro, a questão dos negros no mundo, que até hoje sofrem com reflexos da escravidão a qual foram submetidos.
A história poderia se concentrar apenas nesse conflito masculino, mas o roteiro não quer apenas incluir a representatividade masculina. As mulheres têm papel fundamental dentro da narrativa. Elas não são apenas coadjuvantes. Shuri (Letitia Wright), irmã de T'Challa, é responsável por toda a tecnologia de Wakanda. Okoye (Danai Gurira) é a líder das Dora Milaje, forças especiais femininas que cuidam da segurança do país. Por último temos Nakia (Lupita Nyong'o), ex-amante de T'Challa que trabalha como espiã em outros países. Todas mulheres fortes e com atribuições importantes para a nação.
Wakanda é um lugar fascinante, não só pelos seus avanços, mas também por sua beleza natural. O desenho de produção é incrível na criação do lugar, com suas cores fortes, principalmente nos figurinos dos habitantes. O local é um reflexo da cultura africana e o filme a explora muito bem. A trilha sonora mistura bem essa pegada da África com a música negra americana, resultando em algo marcante, principalmente pelas canções de Kendrick Lamar. Os efeitos especiais são bem realizados, então são poucos os momentos em que não enxergamos a nação como algo “real”. O 3D não compromete muito o visual já que a maior parte das cenas acontece em ambientes claros.
Outro destaque é o fantástico elenco, talvez o melhor dos filmes da Marvel até aqui. O longa reuniu alguns dos melhores atores negros da atualidade. Desde os mais novos como os já citados Michael B. Jordan e Lupita Nyong'o, como alguns veteranos como Forest Whitaker e Angela Bassett. São tantos bons nomes reunidos que fica até difícil destacar apenas um ou outro.
Pantera Negra também inova na escolha de locais onde a história ocorre, como ao passar pela Coreia do Sul. Inclusive o país é palco da melhor cena de ação do filme dentro de um cassino, com um primor técnico invejável. A perseguição de carros pelas ruas de Busan também é muito bem realizada. Afinal de contas estamos em um filme de herói, então os momentos de aventura são importantes para o resultado final.
Mas o mais importante de “Pantera Negra” é conseguir abordar temas atuais e complicados como política e refugiados, mesmo que como pano de fundo. E claro, a importância da representatividade dos negros na cultura pop e em Hollywood. Um filme que diverte, emociona e ainda toca em temas que fazem refletir. Nada mal para um filme de herói. O diretor Ryan Coogler não abandona o gênero e o estilo da Marvel, mas o diversifica e acrescenta elementos que o transformam em uma obra fascinante.
Título Original: Black Panther (EUA, 2018)
Com: Chadwick Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong'o, Danai Gurira, Martin Freeman, Daniel Kaluuya, Letitia Wright, Winston Duke, Angela Bassett, Forest Whitaker e Andy Serkis
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler e Joe Robert Cole
Duração: 134 minutos
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