Bacurau começa com uma cena protagonizada por Teresa, interpretada por Bárbara Colen, e ficamos com a impressão de que ela será a protagonista da história. No entanto, não demora para percebermos que na verdade a cidade título que é a personagem principal do filme. E isso diz muito sobre a obra dirigida por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. O longa quebra expectativas o tempo todo e surpreende do início ao fim. Além disso, ainda transita por diversos gêneros cinematográficos como faroeste, suspense, drama e aventura, sem em nenhum instante perder a sua coesão.
Definir a trama de Bacurau sem entregar nenhum spoiler também é uma tarefa complicada. Estamos em um futuro distópico do Brasil e a cidade localizada no nordeste do país faz parte de um tipo de resistência. Um dia o local é invadido por estrangeiros em busca de caçar humanos por diversão, mas o “entretenimento” não vai ser tão tranquilo quanto eles esperam.
Na verdade temos uma fábula sobre o Brasil atual, ainda que a história se passe num futuro alternativo. É difícil não tentar interpretar a situação da cidade fictícia sem fazer um paralelo com a atualidade. O roteiro escrito pela dupla de diretores tem diversas camadas de narrativa onde abordam temas como política, crítica social e muitos outros. A camada superficial é simples, mas o conteúdo por detrás que é o grande trunfo de Bacurau. É o tipo de obra de arte capaz de causar um impacto muito grande no espectador, que após assistir ao filme ficará com ele na cabeça por um bom tempo refletindo sobre o que acabou de ver.
Tecnicamente o filme também apresenta um primor técnico impressionante. A trilha sonora mistura músicas brasileiras com sintetizadores numa pegada retrô que faz referência aos filmes dos anos 1980, especialmente do cineasta John Carpenter (que também é compositor de trilha e uma delas é utilizada em Bacurau). A fotografia também explora muito bem a beleza do sertão nordestino. E alternar bem entre planos fechados, para captar a expressão facial dos personagens, com planos abertos mostrando a geografia do cenário que também utilizam belas tomadas áreas. A montagem também é bem realizada, mantendo o ritmo da narrativa criando um clima de suspense e mistério, e utiliza efeitos bem interessantes na transição entre algumas cenas.
O elenco também é fantástico e mistura nomes mais conhecidos como Sônia Braga e Udo Kier, com outros mais novos e surpreendentes como Thomas Aquino e Silvero Pereira. Os personagens de Bacurau são incríveis e também representam papéis interessantes dentro da narrativa. Um dos melhores é Lunga de Silvero Pereira, um tipo de cangaceiro moderno em versão homossexual, mostrando que no Brasil do filme a resistência vem dos gays. O simbolismo disso é maravilhoso.
Em síntese, Bacurau é o filme certo na hora certo. O timing do lançamento da obra não poderia ser melhor, em um país que precisa de resistência para lutar contra a regressão do governo federal. O longa de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles é sem dúvidas um dos melhores do ano e também um dos mais importantes, não só pela sua qualidade, mas também pelos seus simbolismos.
Aproveite para ouvir o podcast: Varacast #47 – Bacurau: se for, vá na paz
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Classificação:
Título Original: Bacurau (Brasil, França, 2019)
Com: Sônia Braga, Udo Kier, Bárbara Colen, Thomas Aquino, Silvero Pereira, Thardelly Lima, Rubens Santos, Wilson Rabelo, Carlos Francisco, Luciana Souza e Karine Teles
Direção: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Roteiro: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Duração: 132 minutos
Uma frase que vc colocou resume de forma excelente o que aconteceu comogo: "após assistir ao filme ficará com ele na cabeça por um bom tempo refletindo sobre o que acabou de ver".
ResponderExcluirQuando terminei o filme, achei apenas ok. Com o passar o tempo ele foi crescendo pra mim...