É bom ver o diretor Christopher Nolan voltar a boa forma, após filmes que considerei apenas medianos como “Tenet”, "Dunkirk" e "Interestelar". Em “Oppenheimer” o cineasta alcança toda a ambição pretendida, transformando o que poderia ser um simples drama biográfico em um “blockbuster”.
Mais uma vez o diretor usa elipses narrativas para contar a história de forma não linear e repete o recurso de alternar entre cores e preto-e-branco, similar ao realizado em “Amnésia”. Essa alternância deixa o ritmo da narrativa mais fluido e funciona muito bem graças ao ótimo trabalho de montagem de Jennifer Lame.
Esse elemento tem também uma função narrativa que é diferenciar o que seria o ponto de vista pessoal e subjetivo do próprio protagonista, apresentado em cores, com outro mais objetivo em preto-e-branco. Isso enriquece bastante “Oppenheimer”, dando ainda mais dimensões à história.
A trama é dividida basicamente em três partes. No início conhecemos um pouco mais sobre J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), onde o vemos na faculdade e em seguida no início da carreira acadêmica. Esse trecho é apresentado de forma mais rápida e sem muito aprofundamento. Em seguida vemos o elemento principal da narrativa que gira em torno do Projeto Manhattan, isto é, a construção da bomba atômica. Nele temos um maior desenvolvimento do protagonista através da relação dele com os indivíduos e como surge o seu lado político lidando com diversos tipos de pessoas. Por último, temos Oppenheimer enfrentando as consequências do uso da bomba.
É fascinante ver o estudo de personagem da figura de Oppenheimer construída por Nolan. Ele era judeu, então era importante ajudar a derrotar os nazistas que estavam dizimando o seu povo. A construção da bomba seria uma forma de impedir isso, mas qual o preço disso na humanidade? Afinal de contas outras vidas seriam perdidas e talvez o próprio planeta pudesse ser destruído. Além disso, seu lado pessoal pesava através de suas convicções políticas e da sua vida amorosa.
“Oppenheimer” discute sobre muitos temas, principalmente política, mostrando o quão fria eram as decisões sobre o uso da bomba, por exemplo. Nolan é um cineasta que sempre explora a racionalidade de seus personagens, mas aqui ele encontrou um equilíbrio e desenvolveu também o lado emocional. Dessa forma, é interessante ver como a opinião do protagonista muda no desenrolar da trama e de como com o passar do tempo ele é confrontado por isso.
Um dos elementos que se destaca é a trilha sonora maravilhosa de Ludwig Göransson, que funciona não só para destacar o tom de cada cena, mas também para refletir os pensamentos do protagonista. Dessa forma, em alguns momentos vemos uma cena que seria algo calmo, mas a trilha de Göransson apresenta um tema mais denso e dramático.
A parte técnica sempre chama a atenção nos filmes de Nolan e em “Oppenheimer” como sempre tudo funciona muito bem. Como é um filme de época, os figurinos e design de produção são fundamentais para a imersão dentro do período. Agora sem dúvidas além da já citada trilha, o aspecto técnico mais importante do longa-metragem é o som.
A mixagem e o desenho de som impressionam pela riqueza de detalhes, sendo fundamentais dentro da narrativa. Seja no momento da explosão da bomba, com o silêncio que a precede, ou em cenas dramáticas, quando o protagonista discursa para uma plateia e ouvimos apenas a sua voz, para em seguida ouvir a reação das pessoas.
Por último é importante ressaltar as atuações, começando obviamente por Cillian Murphy, que transforma Oppenheimer em uma figura multidimensional e que fala muito através do olhar. Quem também se destaca é Robert Downey Jr., que aos poucos revela à natureza Lewis Strauss de maneira brilhante. Todo o elenco está muito bem e é curioso ver como Nolan escalou diversos atores famosos até mesmo para papéis pequenos.
Em síntese, “Oppenheimer” é um grande filme em que Christopher Nolan volta a mostrar seu talento como cineasta. É um longa-metragem extremamente ambicioso e que alcança suas pretensões em todos os aspectos, tanto narrativos quanto técnicos.
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