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sexta-feira, 17 de março de 2006

2046 – Os segredos do amor

O cinema oriental vem cada vez mais ganhando espaço aqui no ocidente. Depois do sucesso em festivais em todo o mundo, chega a Salvador (depois de já ter estreado lá no Brasil) o filme do diretor chinês Wong Kar-wai chamado “2046 – Os segredos do amor”. É uma espécie de continuação do seu longa anterior “Amor à flor da pele”.

Mais uma vez ele retoma o tema amor sob a perspectiva do personagem Chow (Tony Leung Chiu-wai), protagonista do “Amor à flor da pele”. Depois da desilusão amorosa do amor platônico que sentia pela vizinha, e depois de descobrir que o marido dela estava tendo um caso com a sua mulher, ele só quer saber agora de beber, e curtir a vida com concubinas e prostitutas. Enquanto isso ele escreve livros e histórias de ficção científica.

Tudo é contado de maneira bastante visual, para criar o amor como uma ilusão de ótica. Para conseguir isso, Wong convocou seu constante colaborador, o diretor de fotografia australiano Christopher Doyle. Ele sim é o grande responável por toda a concepção visual que virou a marca registrada de Wong. Se o cinema oriental tem como fator marcante o apelo visual, com certeza Doyle é um dos responsáveis por isso. Ele também trabalho no também muito bonito “Herói” de Zhang Yiumou.

A partir dessa parte visual que vem toda a complexidade, lirismo e poesia do filme. Tudo começa com o número 2046. Existem muitos significados para o número dentro da história. Seja o número do quarto da amante de Chow, ou seja um lugar onde as pessoas só chegam de trem em busca do amor num clima futurista que faz parte do livro escrito por ele. Então começa a analogia entre o que se passa com sua vida e o reflexo disso nos livros. Enquanto Mr. Chow vive nos anos 60, sua história se passa num futuro alternativo.

Existe também a referência história para a escolha do número 2046. Esse é o ano em que Hong Kong será definitivamente reintegrada à China. Então da para perceber que o filme é cheio de referências e auto-referências.

Assim o filme caminha entre encontros e desencontros amorosos de Chow. Não cabe aqui ficar tentando dar maiores explicações sobre o desenvolvimento um pouco complexo da trama. O elenco conta ainda com a maior e mais conhecida estrela do cinema oriental Zhang Ziyi (“Memórias de uma gueixa”), além de outras menos conhecidas como Gong Li, Takuya Kimura e Faye Wong.

Agora nessa busca pela perfeição visual, apesar da história de amores frustrados ter bastante apelo sensual, acaba faltando um pouco de veracidade emocional. Isto é, a coisa acaba soando tão “perfeita” que soa meio superficial. Não sei, é meio complicado explicar isso. O amor acaba soando “lírico” demais. Talvez seja eu que não entenda mesmo dessa coisa de amor, quem sabe.

Alguns podem se incomodar com o ritmo do filme, meio lento, cheio de sutilezas e idas e vindas. Como eu falei antes, o filme é complexo e também ambicioso. Além de ter várias indagações filosóficas sobre o amor. Coisas como frases ditas por Chow: “o amor é uma questão de timing: de nada vale encontrar a pessoa certa muito cedo ou muito tarde” ou “você não pode deixar 2046, tudo o que pode fazer é esperar que deixe você”. Só assistindo para entender, e depois ficar em casa refletindo a respeito, ou não.

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