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quarta-feira, 19 de abril de 2006

Crime Delicado

O diretor Beto Brant mostra que é possível sim fazer bons filmes aqui no Brasil. Sua filmografia inclui filmes como “O Invasor” e “Matadores”. Com “Crime Delicado” ele muda o estilo em relação aos trabalhos anteriores.

Se antes ele costumava abordar a questão da violência, tramas policias, ter edição ágil, entre outros, agora ele está mais intimista. Usando técnicas de teatro, numa trama mais subjetiva, esse acaba sendo seu trabalho mais complexo, um pouco fora dos padrões “convencionais” do cinema. Talvez isso acabe soando estranho para o público não acostumado a filmes “fora do padrão”. Na sessão que assisti ouvi comentários tipo “não estou entendendo nada” e pessoas “chocadas” com o final. Mas essa reação “adversa” do público ainda está longe de bater o recorde da vez que eu assisti “Cidade dos Sonhos” de David Lynch. Nessa sessão as pessoas bateram palmas ao final do filme, dando graças a Deus por ele ter acabado.

A história é baseada no livro de mesmo nome escrito por Sérgio Sant´Anna. Antônio Martins (Marco Ricca, que também produziu o filme e ajudou a escrever o roteiro) é um crítico de teatro totalmente racional. Ele conhece Inês (a estreante Lilian Taublib), uma mulher que é modelo de um artista plástico que não tem uma das pernas. Antônio começa então a agir passionalmente ao descobrir o envolvimento érotico dela com o artista vendo uma exposição de quadros dele. Ele acaba indo na casa dela e num ataque de ciúmes acaba fazendo sexo com ela sem seu consetimento.

A principio a trama pode parecer simples, mas a abordagem que o filme dá aos temas que é interessante. Inserções de cenas de teatro para ressaltar o trabalho de Antônio em criticar as mesmas, mas que ao mesmo tempo ele também pode acabar virando “palco” para críticas por suas ações. Outro fator é explorar também a arte, mostrando os quadros e um pouco do processo criativo do artista. Com isso levar a muitos questionamentos como o limite da arte, ou melhor, o que é arte. E claro, sobre o crime cometido por Antônio, já que Inês o acusou de estupro.

São três cenas de teatro tiradas das peças “Confraria Libertina”, “Woyzeck” e “Leonor de Mendonça”, que contam com algumas participações especiais como a do ator Matheus Nachtergale. As cenas retratam de alguma forma a maneira como o protagonista está de comportando com o ciúme. Elas foram filmadas com a camera parada, para que o público realmente tivesse a impressão de estar assistindo a uma peça de teatro.

Já para as cenas dentro do “mundo real”, quando Antônio começa a ser julgado pelo seu crime por exemplo, foram filmadas em preto e branco. Um recurso visual que ajuda a construir a narrativa, ou digamos assim, ajuda na subjetividade da história. Alguns outros personagens e cenas aparecem meio desconexas ao filme, mas acabam sim acrescentando bastante ao conteúdo.

Esse filme com certeza é bastante diferente do estilo mostrado por Brant em seus filmes anteriores. O fato dele ser mais intimista e subjetivo pode até digamos assim tornar o filme um pouco mais “difícil” de ser assimilado, complexo demais ou subjetivo demais. Ou talvez justamente por isso ele acabe se tornando um filme interessante. Sim, o filme é bom. Agora se você acha que vai ter problemas com os elementos citados sobre o filme, melhor nem ir assistir. Pelo menos você leu essa resenha e caso resolva ver o filme está avisado sobre a situação. Quem sabe assim evita ficar como as pessoas que estavam na sessão, achando que iam ver um filme “comum” e ficar sem entender nada.

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