“Bingo: O Rei das Manhãs” mostra uma ótima jornada de ascensão e queda do protagonista. Apesar de seguir um caminho tradicional, o longa de Daniel Rezende consegue um resultado eficiente e interessante. O diretor faz sua estreia na direção após trabalhos excelentes como montador em "Cidade de Deus", "Tropa de Elite" [1], "RoboCop" [2], entre outros.
O filme é inspirado na vida de Arlindo Barreto, um dos rostos por trás da maquiagem da versão brasileira do palhaço Bozo que animou a manhã das crianças na televisão nos anos 1980. No longa os nomes dos envolvidos foi trocado, assim temos Bingo como o nome fictício do apresentador infantil. E Arlindo virou Augusto Mendes.
Mendes era um ator de filmes de pornochanchadas que queria atuar em novelas. Após fracassar na tentativa, ele resolve fazer o teste para estrelar o programa infantil como o palhaço Bingo. A tarefa não ia ser tão fácil quanto ele esperava, entretanto o sucesso veio e a atração virou sucesso de audiência.
Um detalhe diferenciou o sucesso de Bingo: o anonimato. É justamente esse ponto que o roteiro de Luis Bolognesi explora de forma muito eficiente. Mendes finalmente conseguiu o sucesso que almejava, mas apenas o palhaço era famoso, não ele. Lidar com isso foi um dos dilemas do personagem. Além disso, ele é pai do pequeno Gabriel e essa relação entre eles vai piorando na mesma medida que o sucesso vai aumentando. Para o garoto isso era péssimo já que sua figura paterna era sucesso entre as crianças de sua idade, mas ele não tinha em casa o mesmo tratamento que elas tinham no programa através da televisão. Isso também é muito bem explorado pela narrativa. Um momento define bem essa relação quando em um aniversário do filho o bolo tem a figura do Bingo, mas o mesmo não aparece na festa.
Outro ponto positivo do filme é a forma como são explorados os exageros da década de 1980. Quem viveu essa época lembra bem dos absurdos que eram exibidos na televisão com apresentadoras infantis que tinham um visual totalmente sexista, só para citar um exemplo. O longa mostra a briga de Bingo com uma delas, fazendo uma alusão a Xuxa. Então o palhaço resolve usar uma arma secreta: a cantora e dançarina Gretchen - que curiosamente foi mantido o nome da pessoa da vida real -, interpretada por Emanuelle Araújo. A moça surge no programa infantil com roupa curta e danças sensuais para animar a garotada.
Viva aos anos 80! Uma época tão sem noção que olhando hoje parece praticamente um universo paralelo. Além de um ótimo design de produção, a trilha sonora mistura clássicos nacionais e internacionais da época ajudando na imersão total na década.
Quem também exagera nos excessos é o protagonista. Quanto mais famoso, e ao mesmo tempo anônimo, a forma que Bingo/Augusto arruma para lidar com isso é com drogas, bebidas e mulheres. A atuação de Vladimir Brichta é brilhante e o grande destaque do filme. Carismático, o ator retrata muito bem os excessos do personagem.
Daniel Rezende prova que também é um ótimo diretor ao conseguir apresentar em “Bingo: O Rei das Manhãs” um ótimo retrato do personagem-título. A história de Arlindo Barreto segue bem a cartilha das cinebiografias onde o protagonista tem uma jornada de ascensão e queda com muitos exageros durante o caminho. Felizmente o cineasta consegue fugir do lugar comum ao transportar o espectador aos anos 80 de forma a compreender como os excessos do palhaço eram também o reflexo de uma época. O filme diverte com diversas referências pop, navega bem pela nostalgia, mas é justamente no drama do personagem que a narrativa se apoia e apresenta sua principal qualidade.
(Brasil, 2017)
Com: Vladimir Brichta, Leandra Leal, Ana Lúcia Torres, Tainá Mueller, Fernando Sampaio e Augusto Madeira
Direção: Daniel Rezende
Roteiro: Luis Bolognesi
Duração: 113 minutos
Nota: 4 (ótimo)
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