O diretor Joe Wright usou a mesma "tática" de "O Discurso do Rei" em seu novo filme "O Destino de uma Nação". Pegou uma figura histórica - nesse caso Winston Churchill - e o retratou de forma mais humana como se fosse uma pessoa comum. Dessa forma o público consegue se identificar mais com o protagonista e entende a complicada situação que ele está passando.
Churchill foi escolhido como primeiro ministro da Inglaterra em um momento bastante tenso e complicado da história, durante a segunda guerra mundial. O exército inglês estava preso na praia de Dunquerque, como foi bem mostrado no filme “Dunkirk”. Então ele tinha que decidir se o país iria ou não se render a Alemanha nazista.
O roteiro de Anthony McCarten toma a decisão de apresentar um Churchill mais humano, mas em consequência menos real. Mesmo mantendo a verossimilhança com os fatos históricos, o roteirista tira algumas liberdades artísticas que dão um impacto emocional e mais romântica a trajetória do protagonista. Um bom exemplo disso é a cena na qual Winston resolve pegar o metrô e conversar com a população sobre o que está ocorrendo. Dentro do filme de Wright esse é um momento chave e tem um impacto muito forte. Entretanto não existe relato de que isso aconteceu, apesar de ser verdade que o primeiro ministro gostava de andar no transporte público em algumas ocasiões.
Outra liberdade do roteiro foi em relação a personagem Elizabeth Layton, interpretada pela atriz Lily James. A moça é uma espécie de secretária de Churchill que datilografa suas mensagens. Entretanto apesar da jovem ter existido de verdade, ela só começou a trabalhar com o primeiro ministro após os eventos apresentados no filme. Mas foi uma boa idéia do roteirista colocá-la na história. Primeiro por colocar uma personagem feminina no meio de um universo dominado pelos homens e segundo por funcionar como uma representação do próprio espectador caminhando junto com o protagonista dentro da narrativa.
Outra figura feminina importante é a esposa de Churchill, interpretada por Kristin Scott Thomas. Mesmo com pouco tempo em cena a personagem surge sempre de forma impactante mostrando o lado humano do protagonista.
Mas o filme é de Gary Oldman! O ator literalmente se transforma em Churchill através de maquiagem e o resultado impressiona. A atuação dele é brilhante pela atenção nos detalhes da construção do personagem. É incrível como ele consegue “assustar” com seu jeito “rude” de lidar com as pessoas, como em seu primeiro encontro com Elizabeth. Mas ao mesmo tempo mostra seu lado frágil quando aparece sozinho pensando sobre qual decisão tomar ou em um momento mais íntimo no banheiro. Oldman tira o filme do lugar comum com uma performance fascinante.
Outro detalhe do roteiro é que muitas vezes as falas dos personagens parecem simples diálogos expositivos, como nas cenas em que o primeiro ministro se reúne na sala de guerra para decidir os rumos do país no conflito. Ou então parecem grandes falas eloquentes e não diálogos entre pessoas. Felizmente o elenco está muito bem e esse problema não interfere tanto no resultado final do filme.
Como um bom filme de época, na parte técnica o longa de Joe Wright é bastante competente com um figurino muito bom e um design de produção excelente. Já a trilha sonora é apenas correta, mas felizmente não atrapalha nos momentos mais emocionais ao criar um clima artificial para a cena.
"O Destino de uma Nação" é um ótimo estudo de personagem e a figura de Winston Churchill é muito interessante. A forma que o diretor retrata o protagonista é bem realizada ao representar bem o lado humano dele. O grande destaque fica por conta da fantástica atuação de Gary Oldman. O ator impressiona com a perfeição de sua caracterização do personagem. Ele consegue mostrar com maestria a humanidade de Churchill e como foi difícil lidar com a tomada de decisão em relação ao destino da Inglaterra na Segunda Guerra Mundial.
Classificação:
Título Original: Darkest Hour (Reino Unido, 2017)
Com: Gary Oldman, Kristin Scott Thomas, Lily James, Ben Mendelsohn, Stephen Dillane e Ronald Pickup
Direção: Joe Wright
Roteiro: Anthony McCarten
Duração: 125 minutos
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