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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

A Forma da Água (The Shape of Water)

Guillermo del Toro é um diretor fascinante e sem dúvidas “A Forma da Água” é o seu auge como artista. O longa é uma fábula linda e intrigante. Só mesmo alguém com o seu tato para conseguir contar uma história “absurda” de forma tão sensível e peculiar. Ao longo de sua filmografia, o mexicano vem apresentando trabalhos singulares e sua última obra é mais uma dessas. Uma história de um amor impossível, um romance inesperado, que ao mesmo tempo homenageia a história do cinema, e mistura com drama, filme de época, alguns alívios cômicos, e por último, apresenta um “monstro”.

Sim, é necessário colocar aspas na palavra monstro. Em princípio a criatura da água deveria ser a ameaça da história. Mas o roteiro escrito por del Toro junto com Vanessa Taylor apresenta uma narrativa que foge do lugar comum. O grande vilão da trama é um homem branco, americano e hétero. O simbolismo por trás disso é muito interessante e bem explorado pelo longa. O terror e o horror sempre estão presentes de alguma forma nos filmes de Guillermo e essa foi a maneira que ele encontrou para representá-los dessa vez.

Na trama, Elisa (Sally Hawkins) é uma faxineira muda que trabalha em um laboratório secreto do governo americano. No local uma criatura aquática misteriosa, interpretada por Doug Jones - ator que está quase sempre presente nos filmes de del Toro interpretando algum ser diferente -, está sendo estudada por cientistas. A moça estabelece uma comunicação não verbal com o ser e rapidamente é criada uma relação mútua de fascínio entre os dois. Quando o cruel coronel Richard Strickland (Michael Shannon) resolve matar a criatura para que ela possa ser melhor analisada, a mulher pede ajuda para seu vizinho Giles (Richard Jenkins) e sua colega de trabalho Zelda (Octavia Spencer) para que a ajude a salvá-lo.

O filme mistura fantasia, amor e romance, principalmente através do incrível apuro visual criado por del Toro. Ele ainda estabelece uma homenagem ao mundo do cinema, ao apresentar a protagonista assistindo cenas de musicais, a ponto de misturar seu cotidiano com o que vê na tela, resultando na cena mais bonita do filme, quando a mesma se imagina protagonizando um musical. Não é por acaso que a moça mora em cima de um cinema que curiosamente se chama morfeu, o deus do sonho.
As cores tem um papel fundamental na construção da personalidade de Elisa, principalmente o verde. A moça está sempre utilizando figurino com essa cor e vemos também ela representada em outros detalhes do cenário. Então quando ela começa a se relacionar com a criatura vamos percebendo a sutil mudança das peças do seu vestuário, por exemplo, quando ela resolve usar um lenço vermelho no cabelo, simbolizando a paixão.

É interessante notar também como logo na primeira cena do filme observamos que Elisa fica totalmente a vontade na hora do banho, quando entra em sua banheira. Tem também o detalhe que a moça aproveita para se masturbar, comprovando ainda mais a paixão pela água. Então é natural que no decorrer da narrativa ela se sinta interessada pela criatura aquática. O trabalho da atriz Sally Hawkins é fantástico ao utilizar bastante a linguagem corporal, já que a sua personagem é muda, então cada expressão facial é importante para transmitir seus sentimentos.
O roteiro estabelece bem o papel de cada personagem, que aparentemente são simples e poderiam facilmente cair na caricatura e clichê, o que felizmente não acontece já que que o elenco explora bem a personalidade de cada um deles. As cenas entre Zelda e Elisa são interessantes já que Spencer se torna um alívio cômico e muitas vezes fala bastante para compensar a falta de palavras de sua amiga. A delicadeza e sensibilidade que Jenkins coloca em Giles também é impressionante e sua homossexualidade é explorada sem clichês e muito bem pela narrativa. Mas sem dúvidas o personagem mais interessante é o vilão interpretado por Michael Shannon. O ator explora a crueldade do seu personagem sem cair na caricatura e exemplifica bem a figura do homem intolerante com o que considera diferente e ameaçador.

A Forma da Água” é um filme lindo e fascinante, que utiliza a essência de uma fábula para enriquecer a sua história de uma forma tão intrigante e fascinante, que só mesmo del Toro conseguiria contar.

Classificação:

Título Original: The Shape of Water (EUA, 2017)
Com: Sally Hawkins, Michael Shannon, Richard Jenkins, Octavia Spencer, Michael Stuhlbarg e Doug Jones
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro e Vanessa Taylor
Duração: 123 minutos

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