A turnê Us + Them de Roger Waters chegou ao Brasil causando polêmica, quando durante a apresentação em São Paulo o músico mostrou no telão que o candidato a presidente Jair Bolsonaro faz parte da nova onda neo-fascista que assola o mundo e deve ter combatida. Uma parte do público não aprovou a crítica e vaiou o músico, enquanto a maior parte protestou com gritos de “ele não”. Quem já ouviu as músicas do Pink Floyd, ex-banda de Waters, deveria saber muito bem sua a posição política. No entanto, isso é um reflexo da situação esquisita que estamos passando no país.
É impossível deixar a política de lado ao se falar de um show de Roger Waters. A apresentação musical é praticamente uma manifestação política. Durante toda a performance o que não falta são críticas ao capitalismo, como na música “Money”, aos porcos capitalistas, mais precisamente a Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, em “Pigs (Three Different Ones)”, entre outros temas atuais.
Contudo, a apresentação é também uma grande viagem musical e principalmente visual. O enorme telão impressiona com o seu tamanho e durante todo o show imagens dão uma identidade visual para as letras das músicas. Por exemplo, durante a música “Time”, vemos diversas imagens de relógios no começo da execução. Os vídeos alternam animações, imagens reais, montagens e também mostram imagens dos músicos que estão no palco tocando.
Os efeitos sonoros também são importantes. Foram colocadas caixas de som na parte de trás do público, dessa forma quando surgem imagens de explosões no telão, ouvimos o som delas vindo do fundo, causando um efeito imersivo ainda maior nesse grande show musical.
O show é dividido em duas partes. A primeira metade tem um encerramento fantástico, com uma carga emocional impressionante. Ela termina com as músicas: "The Happiest Days of Our Lives" e "Another Brick in the Wall Part 2" e "Another Brick in the Wall Part 3", todas do Pink Floyd. Quando elas começam a ser tocadas, sobem no palco um grupo de jovens vestidos com um uniforme laranja de presidiários. Eles fazem uma coreografia e num determinado momento tiram a roupa, mostrando uma camisa escrita “Resist” (resistir). A mensagem também aparece no telão e se a apresentação pudesse ser descrita em apenas uma palavra, sem dúvidas ela seria a melhor a ser utilizada.
O público vai ao delírio nesse momento e quando as músicas terminam, Roger Waters aproveita para dizer algumas palavras ao público. O músico está visivelmente emocionado com a reação das pessoas presentes no Estádio Mané Garrincha em Brasília. Ele fala que as pessoas não devem brigar entre si, mas devem sim se unir e lutar contra o sistema. Depois ele anuncia que teremos um intervalo de 20 minutos e durante esse período algumas mensagens são apresentadas no telão.
Elas falam basicamente da resistência, como em resistir a Mark Zuckerberg e o Facebook, por exemplo. É nesse ponto que chegamos a tal “polêmica”, quando vemos um texto falar que devemos lutar contra o neo-fascismo de políticos como o já citado Trump e Vladimir Putin da Rússia. Mas no lugar do nome de Bolsonaro aparece escrito “ponto de vista político censurado”. Uma crítica direta e inteligente de Waters a reação do público paulista na 1ª apresentação da turnê no Brasil.
Na volta do intervalo duas torres de fábricas surgem da parte de trás do palco, causando um impacto visual imediato na platéia. Começa então a 2ª parte do show com “Dogs” e em seguida a já citada “Pigs (Three Different Ones)”, com uma crítica clara a Trump, com direito a diversas imagens dele no telão. Nesse momento também surge um enorme porco inflável que passeia pelo público com a palavra “humans” (humanos) escrita nele. Outro elemento que impressiona é quando feixes de luz formam a imagem de uma pirâmide acima das pessoas, fazendo alusão a icônica capa do disco “Dark Side of the Moon” do Pink Floyd.
Em 3 horas de apresentação Roger Waters e sua banda entregam ao público um grande show de rock, que com seu enorme telão transformam a performance em uma grande viagem psicodélica musical. Mas sem dúvidas, a melhor forma de definir o show é que estamos diante de um grande manifesto político. O músico deixa clara sua mensagem e ponto de vista político em suas músicas e sua apresentação ao vivo é um reflexo visual/musical disso. Então para finalizar o texto, vou deixar apenas uma palavra: resistir!
Dia: 13 de Outubro de 2018
Local: Estádio Mané Garrincha - Brasília – DF
Fotos: https://photos.app.goo.gl/WXXkMs7WhCnFJLxB7
Setlist:
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