Turminha do RAMON: Podres de Ricos (Crazy Rich Asians)

Podres de Ricos poderia facilmente ser classificado apenas como uma comédia romântica, onde o principal diferencial está no fato da história ser protagonizada por atores asiáticos. No entanto, essa definição é muito simplista e o filme do diretor Jon M. Chu é muito mais do que isso. Temos uma história de amor em sua essência, algo como um conto de fadas que se passa no “mundo real”, mas a narrativa toca em pontos muito interessantes como tradição, costumes, família e felicidade. Mas na verdade o longa é uma história sobre mulheres, de como elas são vistas na sociedade e os sacrifícios que tem que fazer.

A protagonista é Rachel Chu (Constance Wu), uma professora de economia que namora com Nick Young (Henry Golding). Eles já estão juntos há um tempo, mas ela não conhece a família dele. Os dois viajam para Singapura para o casamento de um casal de amigos do rapaz e aproveitam a oportunidade para conhecer seus parentes. O detalhe é que o homem é de uma família extremamente rica, mas ela não sabe disso. Então a viagem é a oportunidade para que a moça conheça quem é o seu namorado “de verdade”.

Ambos são chineses, mas ela nasceu nos EUA, sua mãe foi para o país antes dela nascer. Já o homem nasceu em Singapura, mas foi para os Estados Unidos para estudar. Então por mais que tenham origens parecidas, a forma como foram criados foi bem diferente. Dessa forma, a grande dificuldade que Rachel enfrenta é ter a aceitação da sua sogra Eleanor (Michelle Yeoh). A senhora Young é uma mãe superprotetora, então quer o melhor para o seu filho.

O paralelo entre Rachel e Eleanor é a essência da narrativa de Podres de Rico. A primeira vista é natural enxergar a sogra como a malvada, mas o filme mostra justamente as dificuldades enfrentadas pelas mulheres, seja nos EUA ou no oriente. O conflito entre elas é justamente uma repetição do que a própria Eleanor experienciou para ser aceita na família Young, então para ela essa tradição é algo forte e importante.

O mais interessante é o contraste entre as visões de mundo de cada uma. A senhora Young sabe dos sacrifícios que teve que fazer para montar a sua família, e ela ironiza ao comparar que as mulheres americanas estão mais interessadas na “felicidade” e por isso os relacionamentos/família não duram.

Enquanto isso Rachel sofre os mais diversos tipos de julgamento. O principal deles é as pessoas acharem que ela é apenas uma mulher aproveitadora, que está com Nick apenas por causa do dinheiro, sendo que a moça nem sabia que ele era rico. Isso sem falar em ser julgada pela forma de se vestir, de agir ou por causa do seu corpo.

No entanto o longa de Jon M. Chu não investe em um drama pesado, mas sim apresenta uma história divertida e cheia de cores, inspirado nos filmes de Bollywood, em que a comédia está em primeiro plano, mas que nem por isso deixa de lado o drama e a seriedade dos envolvidos na narrativa.

Os personagens são os elementos mais interessantes de Podres de Ricos. É impressionante como o roteiro de Peter Chiarelli e Adele Lim consegue criar pessoas interessantes e verossímeis com poucos elementos. Alguns deles deixam bem claras suas personalidades com poucas palavras e seu visual, onde os clichês são bem explorados a ponto de que não parecem caricatos. O filme ainda arruma tempo para explorar alguns desses coadjuvantes, como o de Astrid (Gemma Chan), prima de Nick.

Outro ponto de destaque é a trilha sonora, composta de diversas músicas pop famosas de artistas como Madonna e Beatles, só que com versões cantadas em mandarim por artistas orientais. Esse elemento dá um charme a mais ao filme, fazendo uma paródia com filmes americanos, já que Podres de Ricos é um filme feito nos EUA, só que por pessoas de descendência oriental.

Em resumo, Podres de Ricos surpreende por pegar a fórmula de comédias românticas e contos de fada, apresentando uma nova roupagem oriental, mas sem deixar de explorar o drama de seus personagens, principalmente os femininos. Tudo isso de forma divertida e emocionante, com qualidade e inteligência. Além disso, ainda mostra que o cinema americano pode dar oportunidade a filmes protagonizados por “minorias”, dando espaço para toda a diversidade cultural existente no país, e no mundo.

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