Infiltrado na Klan é um daqueles filmes que tem uma história tão absurda, que só poderia ter sido baseada em fatos reais. A obra-cinematográfica de Spike Lee conta a história do detetive Ron Stallworth (John David Washington), um homem negro que nos anos 1970 começou uma investigação para se infiltrar na Ku Klux Klan - organização racista de supremacia branca. Tudo começa com um contato telefônico, mas na hora de realizar o encontro pessoalmente com membros da KKK, sua cor da pele o impedia. Então em seu lugar ia o policial Philip "Flip" Zimmerman (Adam Driver).
O protagonista Ron Stallworth é um personagem interessante. Ele está envolvido em um conflito pessoal em relação a sua cor de pele. Ao se tornar membro da polícia em uma época em que a questão racial era tensa (e que infelizmente isso ainda persiste nos dias atuais), e a repressão policial aos negros era grande, ele se vê dividido entre ser aceito pelos brancos da corporação, mas sem negar a sua própria origem. Infiltrado na Klan explora bem essa questão, mas em muitos momentos o próprio Spike Lee, cineasta conhecido pela sua filmografia que explora bastante a questão racial negra, parece estar na mesma posição de Stallworth e isso se reflete no filme.
Em muitos momentos Infiltrado na Klan parece querer manter um clima “isentão”, sem tomar partido, tom bem diferente da filmografia de Spike Lee. O poder da mensagem que o filme quer passar também é prejudicado pelo final, onde o cineasta mostra cenas atuais para deixar bem claro ao espectador o que ele quis dizer. Algo parecido com textos na Internet e vídeos no YouTube que dizem “explicar” determinadas obras. Esse recurso diminui a história que foi apresentada.
No entanto, o filme explora bem a relação de Ron com Patrice Dumas (Laura Harrier), uma jovem negra envolvida com a luta racial. As discussões entre os personagens são um dos destaques da narrativa. Mas é claro que as conversas de Stallworth com os membros da KKK, principalmente o líder David Duke (Topher Grace), são os melhores momentos do longa. Uma pena que o filme não explore tão bem a relação do protagonista com Flip, seu parceiro e alter-ego de investigação. A dinâmica entre os 2 é fundamental para o sucesso da missão, mas Infiltrado na Klan não se aprofunda nisso.
Infiltrado na Klan tem outras passagens brilhantes, como no momento em que intercala a fala de um senhor negro para um grupo de jovens falando sobre os conflitos que ocorreram após a exibição do filme O Nascimento de uma Nação (1915), clássico do cinema do diretor D. W. Griffith que é extremamente racista, com a cerimônia de integração da KKK. O paralelo entre as duas cenas é bem interessante e bem explorado pelo filme.
O filme também erra ao mostrar no final uma cena na qual o grupo de policiais colegas de Stallworth se reúnem para conseguir provas de que um deles é racista e prendê-lo. Esse momento é constrangedor e ingênuo, como se Spike Lee quisesse mostrar de alguma forma que o racismo acabou após o protagonista ser bem sucedido em sua missão, contrastando com sua mensagem final com cenas reais da atualidade.
Ainda assim Infiltrado na Klan é um ótimo filme que mostra o quanto é importante combater grupos que estimulam o racismo e supremacia branca, já que mais de 30 anos após os eventos mostrados no longa, ainda estamos longe da igualdade racial e os abusos policiais contra os negros continuam altos, tanto nos EUA quanto no Brasil.
Classificação:
Título Original: BlacKkKlansman (EUA, 2018)
Com: John David Washington, Adam Driver, Laura Harrier e Topher Grace
Direção: Spike Lee
Roteiro: Charlie Wachtel, David Rabinowitz, Kevin Willmott e Spike Lee
Duração: 135 minutos
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