O filme “Hebe: A Estrela do Brasil” de Maurício Farias toma uma decisão inteligente ao escolher um determinado momento da protagonista para contar a sua história. Essa solução funciona em tirar a cinebiografia dos principais clichês do gênero, além de ser uma forma mais eficiente de contar a história de uma pessoa tão importante como a apresentadora Hebe.
O momento escolhido é a luta de Hebe contra a censura, mais precisamente no início dos anos 1980 durante o período da redemocratização do Brasil, isto é, saindo da ditadura militar. Vemos a personagem lutando para manter a exibição do seu programa ao vivo, mas ela sofre pressão dos censores por causa do conteúdo. A protagonista tem o conflito inicial com o diretor do programa, mas vemos também o seu lado pessoal na relação abusiva com o marido e a ausência na vida do filho.
Através desses momentos o roteiro de Carolina Kotscho faz um ótimo retrato de Hebe, fazendo um belo resumo da sua vida e de quem ela era. O mais interessante de Hebe: A Estrela do Brasil é o paralelo que a trama faz com os dias atuais. É curioso ver como temas polêmicos nos anos 1980 continuam sendo tabu, como política e o homossexualismo. Dessa forma é significativo ver a apresentadora levando ao programa Roberta Close, a primeira transexual do Brasil, e pensar que atualmente uma cantora como Pablo Vittar sofre muito preconceito. Ou ver a apresentação da banda Ultraje a Rigor com os integrantes vestidos de mulher e hoje o vocalista Roger é super conservador.
O filme também é tecnicamente muito bom, principalmente a fotografia, onde muitas vezes o ponto de vista do espectador é atrás da câmera da TV do programa da Hebe, como se estivéssemos nos bastidores acompanhando a transmissão. O movimento da câmera também é interessante ao seguir a apresentadora como se estivesse seguindo-a pode detrás. Contudo, a montagem é um pouco irregular, principalmente em representar a passagem do tempo da narrativa.
Sem dúvidas o grande trunfo do filme é a presença de Andrea Beltrão como Hebe, que apesar de não ser muito parecida com a apresentadora, através da maquiagem e do figurino ela se transforma na protagonista. A atriz esbanja carisma e desenvolve a personagem de maneira fascinante, seja na escolha do tom de voz ou ao imitar os trejeitos de Hebe. Beltrão mostra todas as facetas da personagem, seja na parte dramática ou cômica, sempre mantendo um alto nível de atuação.
Talvez Hebe: A Estrela do Brasil pudesse contextualizar melhor a narrativa e um pouco a vida da protagonista, mas também corria o risco de se tornar muito didático. Sem dúvidas o filme de Maurício Farias funciona melhor para quem já conhece um pouco da figura da apresentadora, mas é também eficaz para quem está interessado em saber mais sobre sua vida.
Com: Andrea Beltrão, Danilo Grangheia, Marco Ricca, Caio Horowicz e Danton Mello
Direção: Maurício Farias
Roteiro: Carolina Kotscho
Duração: 112 minutos
Pense em um filme que me surpreendeu positivamente? Sério, vi Jô icnem apor falta de opção, e saí da sala contento por ter visto o filme. Gostei muito!!
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