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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Jojo Rabbit

Fazer um filme de comédia sobre a 2ª Guerra Mundial e fazer graça com o nazismo é uma tarefa bem complicada. Olhando por esse lado, a atitude do diretor Taika Waititi é bastante corajosa e ousada ao realizar “Jojo Rabbit”, ainda mais ao mostrar a narrativa do ponto de vista de uma criança. Para complicar ainda mais, o próprio cineasta encara o papel mais difícil da história: uma versão imaginária de Adolf Hitler, que é uma espécie de amigo imaginário / representação do nazismo da perspectiva do protagonista Jojo.

No filme acompanhamos a jornada do pequeno Jojo, uma criança que está participando de um acampamento nazista durante o período da guerra. Esse início da história é fantástico já que vemos diversos jovens realizando atividades “lúdicas” como queimar livros e aprender sobre os poderes “mágicos” dos judeus. Adolf está sempre ao lado do protagonista o apoiando e ouvindo seus questionamentos. A situação muda de figura quando Jojo descobre que sua mãe está dando abrigo a uma adolescente judia. A partir do contato com a jovem ele começa a ver um outro lado e que talvez os judeus não sejam tão maus assim.

A relação entre Jojo e sua mãe também é importante elemento da narrativa e o trabalho de Scarlett Johansson é um dos grandes destaques de Jojo Rabbit. A cena na qual os dois estão jantando e ela começa a interpretar o pai é fascinante, estabelecendo bem o relacionamento dos dois e da dificuldade dela em lidar com o filho e o fanatismo dele pelo nazismo, já que ela decide que aquele local não é apropriado para se falar de política.

Roman Griffin Davis também está incrível como Jojo, dando ao protagonista o ar de inocência sobre o fanatismo do nazismo, além de ter uma ótima expressão corporal. A química dele com Waititi é muito boa e a cena entre eles são bem divertidas. Mas quem rouba a cena é Yorki, interpretado pelo pequeno Archie Yates. Ele é muito fofo e é uma pena que Jojo Rabbit não explore melhor a amizade dele com Jojo.

No entanto, as cenas entre Jojo e Elsa (Thomasin McKenzie) que deveriam ser o ponto mais alto do filme, são apenas corretas. A relação entre eles não é tão bem explorada quanto poderia ser e o roteiro do próprio Waititi vai pelo caminho mais fácil da paixão como a forma do jovem protagonista enxergar a “inimiga” com outros olhos.
O grande problema de Jojo Rabbit reside na manutenção do tom da narrativa. Enquanto segue pela comédia o filme é bem-sucedido, mas quando começa a se aprofundar em questões mais complexas e lembramos que estamos diante dos horrores da guerra e do nazismo, o cineasta se perde. Além disso, a maneira como alguns personagens são retratados como “nazistas bonzinhos”, como o caso do capitão Klenzendorf interpretado por Sam Rockwell, são bem complicadas de aceitar, ainda mais que em pleno 2020 estamos diante de diversos governos autoritários que fazem paralelo ao nazismo.

O final também tem problemas, mas menor perto dos citados no parágrafo anterior. Ainda assim, Jojo Rabbit tem um saldo positivo e é admirável a coragem de Taika Waititi em abordar um tema tão complexo de maneira satírica.

Classificação:

Título Original: Jojo Rabbit (EUA, 2019)
Com: Roman Griffin Davis, Thomasin McKenzie, Taika Waititi, Rebel Wilson, Stephen Merchant, Alfie Allen, Sam Rockwell e Scarlett Johansson
Scarlett Johansson
Direção: Taika Waititi
Roteiro: Taika Waititi
Duração: 108 minutos

Um comentário:

Clara disse...

Concordo com tudo! O que mais gostei foi a representação da relação de Jojo com a mãe. Agora, não achei o final problemático...