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segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Matrix Resurrections

Sem dúvidas Matrix de 1999 é um dos clássicos do cinema e marcou época tanto pela sua história, que inclusive faz mais sentido nos dias atuais, quanto pelas sequências de ação inovadoras através do uso do bullet time. As continuações de 2003 são interessantes, mas o nível de qualidade caiu em Matrix Revolutions, pois muitas das questões levantadas em Matrix Reloaded foram simplesmente ignoradas. Chegamos então em 2021 e a diretora Lana Wachowski apresenta um novo capítulo para a franquia chamado Matrix Resurrections.

Reassistindo os filmes anteriores até faz sentido termos um quarto capítulo, já que no terceiro Neo faz um acordo com o Arquiteto para que deixe os humanos em paz e em troca ele acabaria com o “vírus” do agente Smith dentro da Matrix. Agora encontramos novamente com o Senhor Anderson (Keanu Reeves) dentro da realidade simulada mais uma vez, onde necessita novamente da ajuda de Morpheus (agora vivido por Yahya Abdul-Mateen II) para acordar para a realidade.
 
É impossível falar sobre Matrix Resurrections sem revelar alguns detalhes sobre a trama, então cuidado com os spoilers a seguir.

Um dos pontos positivos de Matrix Resurrections é a forma como Lana Wachowski aborda a narrativa, utilizando muito de metalinguagem. O Senhor Anderson está novamente dentro da Matrix e agora ele é um desenvolvedor de games. Assim, ele criou uma nova versão do “filme” (na nossa realidade) em forma de jogo e que fez um enorme sucesso. Uma cena onde vemos o pessoal de marketing falando sobre como fazer um novo Matrix é ótima, já que brinca com algo que provavelmente Lana passou na vida real para dar vida a esse novo filme.

O roteiro mostra alguns trechos dos filmes anteriores para relembrar alguns detalhes da trama, mas é curioso como no momento em que Neo caminha mais uma vez para acordar da Matrix, isso ocorre em um teatro onde vemos no fundo do palco imagens do primeiro longa metragem, mas que dentro da realidade do filme são cenas do game. Dessa forma, tanto dentro da narrativa quanto no nosso mundo real, o objetivo é claro: ressignificar a história original.
O problema é que no primeiro filme a história tinha um tom mais interessante e reflexivo sobre a questão do que é real ou não, entre outros elementos. Parece que agora Lana está um pouco mais "ingênua", então Matrix Resurrections apresenta uma narrativa mais explícita. Temos ótimas mensagens de otimismo e da importância da resistência (que são importantes no momento atual), mas por outro lado pouco parecem acrescentar ao universo de Matrix.

O único elemento de diferencial é sobre o empoderamento feminino, retratado através da personagem Trinity (Carrie-Anne Moss). Matrix Resurrections é basicamente uma história de amor, mas se anteriormente era ela quem tinha que acreditar “cegamente” em Neo, agora é ele que vai fazer de tudo por ela, fazendo com que seu resgate seja fundamental para uma nova vitória sobre o novo Arquiteto, agora chamado de Analista.

O filme também surpreende em seu início, onde vemos a cena inicial de Matrix sendo "encenada" novamente com outros atores e que mostra Trinity sendo abordada por policiais. Quem acompanha tudo como espectadora é Bugs (Jessica Henwick), uma nova personagem que é capitã de uma nave dos humanos e está dentro da Matrix em busca de Neo. É ela quem ajuda o novo Morpheus a resgatar o Senhor Anderson. O interessante desse momento é brincar com o fato de que aparentemente Matrix Resurrections seria um remake do original de 1999, mas depois vislumbrar que na verdade é uma trama bem diferente.

No entanto, o filme decepciona bastante em sua parte técnica. A primeira coisa que chama a atenção é a trilha sonora, onde a dupla Johnny Klimek e Tom Tykwer tem a difícil missão de substituir o compositor Don Davis, e infelizmente eles falham. Os temas de Davis contém uma assinatura fundamental dentro do universo de Matrix. Klimek e Tykwer não chegam nem perto disso e mesmo usando alguns temas de Don, o uso é artificial e não consegue o efeito esperado.
Outro ponto negativo são as cenas de ação, que são filmadas de maneira problemática como boa parte dos filmes atuais, com muitos cortes e dificultando que o espectador entenda o que é apresentado na tela. As lutas também são pouco inspiradas, dessa forma Matrix Resurrections não consegue sair do “genérico”. Tudo bem, com certeza isso não é fundamental para a narrativa, mas era um dos diferenciais dos filmes anteriores. É difícil não ficar decepcionado nesse quesito.

Por outro lado, o elenco está muito bem. Os atores que interpretam novos personagens mostram trabalhos interessantes, como a já citada Jessica Henwick como Bugs. Seu papel funciona bem em nos introduzir aos novos elementos da Matrix (com o uso de diversos diálogos expositivos, bem comuns na franquia). Neil Patrick Harris está ótimo como o Analista e tem os melhores momentos do filme. Contudo, quem sempre rouba a cena é Yahya Abdul-Mateen II, onde mesmo com pouco tempo em tela apresenta uma versão extremamente divertida de Morpheus, contrastando com sua versão original bem mais séria. Já Jonathan Groff não tem muito espaço para inovar com sua versão do agente Smith, mas faz uma bela performance.

Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss são a alma da série, então o carisma dos dois junto com a excelente química que tem entre si talvez seja o grande trunfo de Matrix Resurrections. A presença deles faz com que esse novo filme de Lana Wachowski não perca sua relevância. Tendo mais acertos do que erros, esse recente longa-metragem se mostra necessário e importante nos dias atuais.


Classificação:


Título Original: The Matrix Resurrections (Estados Unidos, 2021)
Com: Keanu Reeves, Carrie-Anne Moss, Yahya Abdul-Mateen II, Jessica Henwick, Jonathan Groff, Neil Patrick Harris, Priyanka Chopra Jonas e Jada Pinkett Smith
Direção: Lana Wachowski
Roteiro: Lana Wachowski, David Mitchell e Aleksandar Hemon
Duração: 148 minutos

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