Infelizmente atualmente vivemos um período em que a extrema direita assumiu o poder em diversos lugares do mundo. Na América do Sul a situação é ainda mais complicada pois a maioria das nações passou por um período de Ditadura Militar. Pelo menos alguns países como Chile e Argentina resolveram melhor esse triste momento histórico. O filme “Argentina, 1985” fala justamente sobre esse “acerto de contas”, quando os militares foram julgados pelos crimes que cometeram.
Assim, “Argentina, 1985” é o tipo de filme que vale mais pelo seu significado do que pela própria obra em si. Contudo, a obra de Santiago Mitre é brilhante em retratar esse momento histórico importante. A Argentina passou pela Ditadura Militar entre 1976 e 1982, então em 1985 havia pouco tempo que o controle dos militares terminou e era importante que se aproveitasse que as memórias ainda estavam frescas na cabeça da população.
O protagonista é o promotor argentino Júlio Strassera (Ricardo Darín) que teve o papel de montar a acusação contra os militares. Ao ser informado que o julgamento ocorreria, ele ficou desconfiado de que não seria feita de maneira séria e poderia se transformar em uma forma de tirar a culpa deles sobre o que ocorreu na ditadura. É interessante como o roteiro do próprio Mitre em parceria com Mariano Llinás explora bem o lado pessoal de Strassera, pois era uma missão de enorme responsabilidade e que afetaria as pessoas ao seu redor.
Ricardo Darín como sempre uma atuação impecável e constrói esse lado humano e multidimensional do personagem com maestria. A mistura de honestidade, hesitação e coragem definem bem Júlio Strassera. O ator transforma o momento em que o promotor lê a acusação contra os militares no clímax do filme.
É impressionante como o roteiro de “Argentina, 1985” desenvolve a narrativa de maneira eficaz e mesmo utilizando alguns clichês de histórias de tribunal apresenta uma história emocionante e impactante. Não apela para o melodrama, mas não deixa de explorar de maneira inteligente o relato das testemunhas que narram as torturas feitas pelos militares.
Ainda sobra espaço para explorar a equipe montada por Strassera, que é formada por muitos jovens e tem na figura do promotor Moreno Ocampo (Peter Lanzini) o seu protagonismo. Através desse personagem vemos a relação das elites com os militares.
Em síntese, “Argentina, 1985” é um filme excelente e que ainda ganha o bônus da sua importância história. Se enxergamos então do ponto de vista de nós brasileiros é triste pensar que nosso país nunca julgou de maneira eficaz os militares da ditadura. Não por acaso elegemos em 2018 um presidente “militar” que idolatra um torturador. Esquecer a história e acreditar que não houve ditadura (e sim uma “revolução”) nos fez chegar a esse ponto. Por isso é sempre bom repetir: DITADURA NUNCA MAIS.
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