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domingo, 2 de abril de 2017

Logan

Wolverine é o personagem mais famoso entre os mutantes dos X-Men, por isso ele foi o único que teve filmes solo. O primeiro mostra a origem de anti-herói, enquanto o segundo mostra uma aventura ambientada no oriente inspirada em uma HQ clássica. Ao optar por uma censura mais branda, e com isso alcançar um público maior, ele nunca tinha sido retratado de forma totalmente fiel aos quadrinhos. Após o sucesso de “Deadpool”, que apostou em um tom mais adulto - e com isso pode utilizar mais violência e palavrões, a Fox resolveu utilizar a mesma fórmula em “Logan”.

O grande diferencial, e também um dos "problemas" de “Logan”, é ele tentar fugir do gênero de filmes de super heróis. O roteiro de Michael Green, Scott Frank e James Mangold - que também dirige o filme, mostra uma história sobre um grande drama do personagem que mostra sinais de sua fragilidade, graças a idade mais avançada, bem diferente da característica principal de Wolverine: o fator de cura. Um homem que lida com seu passado e tenta seguir em frente, fugindo o máximo que conseguir dele.

Ainda assim, suas principais características estão presentes, como o seu lado mais animal e instintivo. Dessa forma, quando Logan está em perigo, ele não hesita em usar a força mesmo que isso implique em matar pessoas. Finalmente podemos ver o lado mais agressivo do personagem que corta o braço de um oponente sem nenhum pudor, espirrando sangue para todo lado, ou enfia suas garras na cabeça de outro. Essa face era sempre aliviada por causa da censura, já que os filmes da franquia X-Men eram voltados para o público infanto-juvenil, que agora envelheceu e pode ver o lado mais maduro e real de Wolverine.
Felizmente, o filme não se prende apenas à violência. O roteiro apresenta a personagem Laura / X-23 (Dafne Keen), uma garota que passou por um experimento parecido com o qual Logan foi submetido. Ela é muito parecida com o Logan; garras, um instinto animal e agressivo. Quando ela cruza o destino do protagonista, ele se encarrega de protegê-la e levá-la ao seu destino. É estabelecida uma relação quase de pai e filha entre eles e a narrativa explora muito bem esse elemento.

O mesmo pode ser dito sobre o relacionamento entre Wolverine e o Professor Xavier (Patrick Stewart), que agora é um homem idoso e fraco lutando para controlar o seu poder. Algo de terrível aconteceu com os X-Men, e o filme não se prende a tentar explicar - o que deixa o fato mais misterioso e assustador - bastando saber que algo terrível ocorreu. A única coisa apresentada é que a influência deles no mundo foi tanta, que eles viraram uma lenda e foram retratados em revista em quadrinhos - o que funciona como uma ótima referência de metalinguagem.

Essa relação entre os personagens funciona muito bem não só pelo ótimo roteiro, mas como também pelas grandes atuações. Hugh Jackman já interpretou Logan diversas vezes, é o seu personagem mais icônico, mas aqui ele teve um desafio ao mostrar uma nova face de Wolverine. O ator retrata bem essa mistura da agressividade com a fragilidade, ao mesmo tempo que apresenta o lado paterno - que tinha sido mostrado levemente no primeiro filme dos X-Men na relação dele com Vampira. Já Patrick Stewart, que antes era como um pai/professor dos mutantes, mostra um Xavier que se sacrifica para salvar o seu último “filho”. A jovem Dafne Keen surpreende com muita energia nas cenas de luta e tem química com Jackman. Ela passa boa parte do tempo sem falar, o que torna sua personagem mais misteriosa e sua atuação mais corporal e intensa. Quando ela resolve falar isso é prejudicado.
O principal problema do filme é o vilão, ao mostrar uma figura clichê que tem interesse em recuperar a X-23 para poder usá-la como arma. Ele é tão frustrante que o roteiro cria um elemento alternativo para combater o protagonista: uma versão malvada dele. Ou seja, um confronto do Logan bonzinho contra o malvado. As cenas de luta entre os dois são muito bem realizadas, mas como elemento narrativo isso prejudica bastante a história.

Além disso, ao focar mais no drama do personagem, o filme não consegue fugir totalmente do que ele realmente é: um filme de super-herói. Muitos outros do gênero conseguiram mostrar que isso não é algo tão simples, mas mas que é possível apresentar tons e gêneros diferentes, sejam eles drama, comédia, espionagem, aventura espacial, magia, entre muitos outros. Não basta apenas transformar a história em algo mais adulto que todos os problemas estão resolvidos. Essa indefinição e tentativa de fuga do universo de heróis dá um novo fôlego a Logan, mas ao mesmo tempo fica faltando um pouco de emoção e empatia com o protagonista.

O roteiro cria diversos elementos dramáticos interessantes, mas não consegue transformar esse novo filme de Wolverine em algo totalmente emocional como ele pretendia. Ainda assim, Logan é um ótimo filme e sem dúvidas a representação mais fiel aos quadrinhos já feita do personagem. E isso já um grande mérito.

Título Original: Logan (Estados Unidos, 2017)
Com: Hugh Jackman, Patrick Stewart, Dafne Keen, Boyd Holbrook, Stephen Merchant, Richard E. Grant, Elizabeth Rodriguez e Eriq La Salle
Direção: James Mangold
Roteiro: James Mangold, Michael Green e Scott Frank
Duração: 137 minutos

Nota: 4 (ótimo)

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