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segunda-feira, 27 de março de 2017

Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight)

Moonlight: Sob a Luz do Luar” conta uma história sobre um negro, pobre e homossexual, ou seja, uma pessoa que enfrenta dificuldades desde cedo. O protagonista, ainda garoto, tenta descobrir quem ele é. O silêncio é a forma que ele encontra de se proteger da sociedade, seja de sua mãe ou dos colegas do colégio. O filme apresenta 3 fases da vida do personagem, cada uma é interpretada por um ator diferente, e mostra a evolução de cada etapa de forma bem interessante.

Cada etapa leva o nome o qual o personagem é conhecido na época. Primeiro conhecemos Little (Alex Hibbert), um garoto que foge dos seus colegas do colégio por causa do bullying. Seu mecanismo de defesa é falar o mínimo possível e ficar sempre de cabeça baixa, sem olhar as pessoas diretamente nos olhos. Mesmo com pouca idade, já é possível observar que ele é um indivíduo machucado pela vida.

Durante uma dessas fugas, ele conhece Juan (Mahershala Ali), um traficante local. O homem acolhe a criança e surge uma amizade entre eles. No entanto, a mãe do menino é viciada em drogas e com isso Juan entra em conflito consigo mesmo, já que se tornou indiretamente responsável pela situação do garoto.

Começa então uma relação de pai e filho entre eles, já que Little mora apenas com a mãe sem uma figura paterna. Homem e garoto mudam a vida um do outro. Por exemplo, quando Little pergunta sobre o que é “bicha” para Juan, ele hesita em responder questionando sobre onde o menino ouviu essa palavra. O pequeno diz que os coleguinhas o chamaram disso e ele pergunta se isso é uma coisa ruim. Ou seja, a criança já começa a notar que é “diferente”. E o homem responde que o garoto ainda tem muito tempo para descobrir quem ele realmente é.
A interpretação de Ali é essencial na construção dessa figura paterna para Little. O ator, mesmo com pouco tempo em tela, deixa sua marca no filme a na vida do garoto. Contando histórias sobre sua vida, inclusive uma sobre estar sob a luz do luar  - conferindo esse título ao filme, Juan divide sua experiência com a criança. Talvez de alguma forma tentando consertar ou melhorar a situação de Little, e de sua própria consciência, já que sua profissão não é das mais nobres e influencia a vida do pequeno graça ao vício da mãe dele. Esse impacto fica ainda mais claro na terceira parte do filme, quando vemos Litltle se transformar em Black (Trevante Rhodes), um adulto com um visual bem parecido com o de Juan.

Mas antes de falar da terceira parte, vamos à parte do meio, onde Little se transforma no adolescente Chiron (Ashton Sanders), seu nome de batismo. Suas dúvidas e a situação com a mãe continuam as mesmas, só que agora ele começa a demonstrar seus desejos sexuais ao ter fantasias com o amigo de infância Kevin (Jharrel Jerome na fase jovem). Esse é o momento de experimentar mais a vida, mas também de apanhar mais dela. Principalmente por não saber exatamente o que fazer. Isso é retratado muito bem na relação dele com sua mãe. A atuação de Naomie Harris é excelente ao construir esse relacionamento problemático no qual Paula, a mãe, explora seu filho pedindo dinheiro ou tirando ele de casa enquanto ela recebe uma "visita". A mulher viciada vende o seu corpo em troca de drogas. A cena na qual ela sai do quarto, com uma luz vermelha ao fundo, retrata bem a influência negativa dela na vida do jovem.

Finalmente no terceiro ato, quando vemos Black, fica a dúvida se temos uma versão adulta de Chiron ou uma jovem de Juan. A nova maneira que ele encontrou de se proteger da sociedade, ou dele mesmo, foi criar uma imagem do clichê do traficante de drogas. Forte, com ouro nos dentes, usando correntes grandes e douradas no pescoço, enquanto dirige um carro rebaixado e com rodas brilhantes. Fica claro que ele ainda está em busca da sua própria identidade. Ao receber uma ligação de Kevin (André Holland na versão adulta), o sentimento reprimido vem à tona. E ele vai atrás disso.
A cena do reencontro dos dois é muito bonita e a trilha sonora tem um papel fundamental, assim como em outros momentos do filme. Tanto que a letra da música “Hello Stranger”, de Barbara Lewis, aparece nas legendas, já que ela é peça chave para se entender o contexto. Nesse ponto a história mostra ainda mais o seu lado sensível e tocante. Uma cena linda que provoca emoção sem apelar para o sentimentalismo barato.

Moonlight é um filme que conta uma história simples e bonita, sem em momento algum transformar o drama de seu protagonista em algo clichê apelando para o melodrama. Uma história realista e humana, retratada de forma verossímil e genuína. Além de ter também um visual muito bonito, utilizando as cores para reforçar as emoções, assim como atuações maravilhosas que contribuem para se criar empatia e conexão com os personagens.

Título Original:  (Estados Unidos, 2016)
Com: Alex R. Hibbert, Ashton Sanders, Trevante Rhodes, Naomie Harris, Janelle Monáe, Jaden Piner, Jharrel Jerome, André Holland e Mahershala Ali
Direção e Roteiro: Barry Jenkins
Duração: 111 minutos

Nota: 5 (excelente)

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