“Um Limite Entre Nós” não esquece em momento algum da sua raiz teatral ao apresentar um roteiro com cenas longas e cheias de diálogos. Ao se apoiar mais em palavras, ele se sustenta principalmente nas ótimas atuações do elenco e nos personagens complexos apresentados.
O filme, dirigido e estrelado por Denzel Washington, conta a história de Troy Maxson, um homem que nos anos 50 trabalha duro como catador de lixo para sustentar sua família. Seus poucos momentos de prazer são sempre ao lado do companheiro de trabalho Jim Bono (Stephen Henderson), amigo com o qual Troy sempre conversa bastante durante o serviço e, quando podem, dividem uma bebida depois de trabalhar. Maxson é casado com Rose (Viola Davis) e eles têm um filho chamado Cory (Jovan Adepo).
A família Maxson vive dramas que ainda hoje são comuns, como problemas no casamento ou a vontade do filho em seguir a carreira no esporte contra a vontade do pai; uma vez que Troy tentou ser jogador de beisebol sem sucesso e não quer que seu filho se frustre, assim como ele. Além disso, o fato deles serem negros - vivendo nos anos 50 - torna suas vidas ainda mais difíceis. Essa é a base dos seus conflitos e discussões, mas outros temas vão surgindo como amor, traição, orgulho, felicidade, falta de demonstração de carinho, a obrigação e responsabilidade do pai em sustentar a família, entre outros.
A riqueza e complexidade dos temas abordados somados à qualidade do roteiro de August Wilson, assim como as atuações do elenco, são os grandes diferenciais do filme. O problema é que, na adaptação do texto para o cinema, Washington não conseguiu dirigir a história pensando em se expressar com imagens. Os movimentos de câmera são óbvios e o simbolismo por trás da metáfora das ‘cercas’ (fences do título original), por exemplo, é explicado pelos personagens, quando ele poderia ter sido retratado apenas de forma visual. Assim o espectador não consegue deixar de lembrar durante todo o longa de que estamos mais próximos de uma peça de teatro filmada do que de um filme.
Assim como um trabalho teatral, o principal destaque do filme fica por conta das atuações. Viola Davis entrega uma atuação maravilhosa e consegue passar toda a dor e emoção do seu personagem. Já Washington está em modo automático, mas ainda assim com uma performance acima da média, mesmo que em alguns momentos ele exagere nas expressões faciais no intuito de mostrar a intensidade das emoções de Troy. A dinâmica entre os atores também faz com que as cenas com longos diálogos não pareçam cansativas.
Dessa forma o filme funciona, emociona e cria no espectador boas reflexões inspiradas nos eventos vividos pelos personagens. Ainda que o longa pareça não se lembrar de que é uma obra baseada em imagens, as palavras não deixam de ser importantes no processo cinematográfico.
Título Original: Fences (Estados Unidos, 2016)
Com: Denzel Washington, Viola Davis, Stephen Henderson, Jovan Adepo, Russell Hornsby, Saniyya Sidney e Mykelti Williamson
Direção: Denzel Washington
Roteiro: August Wilson
Duração: 139 minutos
Nota: 3 (bom)
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