“Bom Comportamento”, novo filme dos irmãos Safdie, lembra bastante "Depois de Horas" de Martin Scorsese: um personagem passando por uma noite de tensão enquanto tenta resolver uma situação. Não por acaso a própria estética do longa lembra muito filmes dos anos 70 e 80. Entretanto, no filme de Scorsese o protagonista tem uma tarefa mais “simples”: voltar para casa. Já Connie Nikas, interpretado por Robert Pattinson, precisa conseguir dinheiro para tirar o seu irmão Nick (Ben Safdie) da cadeia. O detalhe é que ele foi o responsável pela prisão do irmão - que tem deficiência mental - ao levá-lo em um assalto do qual somente o próprio Connie conseguiu escapar.
Connie fica com a consciência pesada e sai em busca do dinheiro para conseguir salvar o irmão. Com medidas desesperadas ele se envolve em vários problemas. O rapaz parece sempre tomar as piores atitudes e isso resulta em situações que misturam algo trágico e cômico ao mesmo tempo. As decisões que toma o colocam em situações de risco e aumentam a tensão durante o filme. Um bom exemplo disso é quando o rapaz resolve ir em um hospital tentar visitar o irmão, mesmo sabendo que haverá policiais no local.
É interessante notar como o personagem é uma mistura de um comportamento explosivo com sensibilidade. Isso só funciona graças a ótima atuação de Pattinson que transforma Connie em uma figura que, apesar do comportamento questionável, parece estar querendo buscar o caminho certo, ainda que da forma errada. O personagem usa desse carisma para tentar se aproveitar de algumas pessoas, como por exemplo Corey (Jennifer Jason Leigh) que atua como namorada. Mesmo com pouco tempo em tela a atriz deixa a sua marca com uma ótima performance de uma mulher apaixonada capaz de fazer loucuras por amor.
Outra atuação importante é a de Ben Safdie, que também é um dos diretores do filme. Ele interpreta Nick o personagem de forma excelente, ponto do espectador se perguntar se ele realmente não possui algum tipo de problema mental assim como o personagem. Ele também tem pouco tempo em tela, mas sua presença é muito importante na trama já que a história gira em torno dele. O roteiro de Josh Safdie e Ronald Bronstein explora muito bem a relação entre os irmãos. Connie quer proteger o Nick e não acha que ele precise de um tratamento especial, mas, ao mesmo tempo, o explora colocando-o em risco ao levá-lo ao assalto. O filme cria um ciclo interessante ao iniciar e terminar com uma cena de Nick em uma consulta psicológica, onde o telespectador pode ver o antes e o depois do comportamento do personagem em relação ao psicólogo.
Além da própria trama, detalhes técnicos ajudam a deixar o filme tenso do início ao fim. A fotografia de Sean Price Williams investe em planos fechados e closes na maior parte do tempo para aumentar a sensação de claustrofobia enquanto a montagem dinâmica de Ben Safdie e Ronald Bronstein mantém um ritmo mais frenético, mesmo em cenas mais “lentas”. A trilha sonora completa com uma mistura música eletrônica pop com toques de new age quase sempre em volume alto para “incomodar” e seguir de forma agitada.
O longa está mais interessado em explorar a situação complicada do personagem. Muitas vezes a história segue por caminhos absurdos justamente para explorar o quanto uma pessoa desesperada é capaz de tomar as piores decisões. Os diretores utilizam a parte estética para dar ao filme um ar urbano de anos 70, principalmente por se preocupar com detalhes como mostrar as luzes de neon das ruas. Dessa forma, mesmo contando uma história que não tem nenhuma grande profundidade ou uma grande inovação narrativa, “Bom Comportamento” se beneficia por ótimas atuações, principalmente de Pattinson, um ritmo frenético e uma parte técnica de qualidade resultando em um trabalho de qualidade.
* Texto revisado por Elaine Andrade
Título Original: Good Time (EUA, 2017)
Com: Robert Pattinson, Jennifer Jason Leigh, Ben Safdie, Barkhad Abdi e Buddy Duress
Direção: Ben Safdie e Josh Safdie
Roteiro: Josh Safdie e Ronald Bronstein
Duração: 99 minutos
Nota: 4 (ótimo)
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