Turminha do RAMON: Cadê Você, Bernadette?

O diretor Richard Linklater assume um tom mais de fábula em “Cadê Você, Bernadette?”, ao apresentar a jornada da personagem do título interpretada por Cate Blanchett. O filme fala basicamente sobre a relação da protagonista com sua filha Bee, mas entra em outras questões envolvendo também o marido. Bee também é a narradora da história, então temos o ponto de vista dela sobre os conflitos enfrentados pela mãe.

Bernadette é uma ex-arquiteta que se tornou uma pessoa reclusa, que abandonou a profissão e praticamente se tornou uma dona de casa, se dedicando quase que exclusivamente a filha Bee. Após um “surto” a mulher foge para Antártica, em uma jornada de autoconhecimento e reconexão com a arquitetura.

Olhando assim a trama parece um filme de autoajuda, mas o diretor Richard Linklater não segue por esse caminho. O cineasta é mais conhecido por histórias mais realistas, mas apesar do tom de fábula, ele desenvolve muito bem a história, principalmente os dilemas da protagonista. O que a teria levado a se tornar uma pessoa antissocial? Aos poucos descobrimos mais sobre o seu passado.

Uma cena bem interessante em apresentá-la é quando ela se encontra com um amigo do passado, interpretado por Laurence Fishburne, enquanto seu marido Elgin, interpretado por Billy Crudup, se encontra com uma terapeuta (Judy Greer). A montagem alterna as conversas, criando um ritmo interessante para a cena, e mostrando os pontos de vista diferentes entre marido e mulher sobre os problemas da relação.

O filme também é inteligente em apresentar a personagem através da imagem, seja através do caos presente em sua residência, que reflete a confusão e conflito da sua própria cabeça, ou através das cores do figurino de Bernadette, que começam com tons mais escuros de azul e preto, mudando para cores mais vivas como verde e vermelho após a sua fuga de casa.

Outro conflito bem utilizado pela narrativa é o de Bernadette com sua vizinha Audrey, interpretada por Kristen Wiig. A protagonista é uma pessoa difícil de lidar e não faz questão de esconder, não tratando tão bem quem está ao seu redor, como a própria Audrey, apesar de exagerar um pouco no que ocorre. No entanto, durante sua fuga, Bernadette pede ajuda a ela, que entende a situação e percebemos que na verdade elas têm muito mais em comum do que imaginávamos.

Contudo, é a relação de Bernadette e Bee que move a história, então é interessante ver que a filha é a única que acredita que sua mãe não enlouqueceu e que tem um bom motivo para ter fugido de casa. É nesse ponto que “Cadê Você, Bernadette?” ganha sua maior força, somado ao talento de Cate Blanchett, que brilha no papel da protagonista, esbanjando carisma e criando facilmente uma empatia da personagem com o espectador.

O único deslize do filme de Richard Linklater é em sua conclusão, já que o diretor prefere uma solução mais fácil para resolver o conflito de Bernadette, principalmente na relação com o marido. Ainda assim o resultado é bastante positivo.

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