Adaptar mais uma vez o livro de H. G. Wells pode parecer um sinal da falta de criatividade dos estúdios de Hollywood, no entanto a versão de “O Homem Invisível” na visão de Leigh Whannell é fascinante por contar a história do ponto de vista da personagem feminina. Dessa forma, a história ganha na contemporaneidade e apresenta uma metáfora interessante sobre relacionamentos abusivos que muitas mulheres passam todos os dias.
A história original gira em torno de um homem que lida com o poder de se tornar invisível, mas na versão de 2020 Adrian, cientista renomado na área da óptica, usa sua invenção para atormentar sua ex-namorada Cecilia. “O Homem Invisível” começa com a mulher tentando fugir da mansão do namorado e o desespero em suas feições fazem o espectador imaginar os horrores que ela deve ter passado para chegar a esse ponto.
A moça consegue fugir e pouco depois descobre que seu ex se matou. Essa seria a sua chance de seguir com sua vida, no entanto não é isso que acontece. De alguma forma ela começa a ser atormentada, mas será que isso é real ou apenas algo psicológico causado pelo trauma que sofreu?
É justamente isso que o filme explora, já que muitas vezes as mulheres são taxadas de loucas por seus namorados/maridos, ou por outras pessoas, quando relatam os abusos que sofreram.
O diretor Leigh Whannell explora muito bem a tensão e o mistério em torno da narrativa, seja através da fotografia e movimentos de câmera, como também com a trilha sonora Benjamin Wallfisch, que constrói bem com temas urgentes o clima da cena. O desenho de som também é fundamental, já que os momentos de silêncio são cruciais para desenvolver o nervosismo do momento, principalmente quando ele é quebrado com algum som.
Mas sem dúvidas o grande trunfo do filme é a atuação de Elisabeth Moss que é soberba. A atriz constrói Cecilia de maneira fascinante, alternando a fragilidade com a força, mostrando o “terror da vida real”, mesmo que seja de maneira “fabulesca”, do drama que muitas mulheres enfrentam no seu dia-dia.
“O Homem Invisível” também acerta em pequenos detalhes, como ao praticamente não mostrar o rosto do ator que interpreta Adrian, dessa forma o terror do personagem representa de alguma forma a figura masculina de forma geral. E quando ele aparece é difícil não sentir repulsa.
O filme também acerta em apresentar ótimas surpresas e reviravoltas interessantes que irão fazer o espectador questionar o lado moral de um relacionamento abusivo. Em síntese, o diretor Leigh Whannell acerta em apresentar uma leitura fascinante em torno da obra de H. G. Wells. Talvez o único “defeito” de “O Homem Invisível” seja o fato de ter poucas mulheres envolvidas na produção, mas já é positivo que um homem abra espaço para discutir os absurdos gerados pelo poder do abuso masculino.
Classificação:
Com: Elisabeth Moss, Aldis Hodge, Storm Reid, Harriet Dyer, Michael Dorman e Oliver Jackson-Cohen
Direção: Leigh Whannell
Roteiro: Leigh Whannell
Duração: 124 minutos
Concordo com tudo o que escreveu!! O filme é muito bom, a ideia de fazê-lo na perspectiva da namorada é fantástica e ela, Elisabeth Moss, está sensacional!
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