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quinta-feira, 19 de março de 2020

Retrato de uma Jovem em Chamas

É interessante como um filme que se passa no final do século XVIII como “Retrato de uma Jovem em Chamas” possa parecer tão contemporâneo. Dirigido e escrito por Céline Sciamma, o longa conta a história da jovem pintora Marianne (Noémie Merlant) que é contratada para pintar um retrato de Héloïse (Adèle Haenel) sem que ela saiba. O objetivo do quadro é levar a imagem da moça para aprovação de um possível marido.

Héloïse mora em uma casa em uma ilha junto com a mãe e uma serviçal. A presença de Marianne é uma distração para a jovem, que serve de companhia no local isolado. O trabalho da pintora é complicado, já que tem que ficar observando e memorizando a “modelo” para que consiga pintar depois o quadro sem a presença da mesma. Mas é possível sentir a “tensão sexual” entre as duas logo no início e de que ali surgiu uma grande paixão.

Retrato de uma Jovem em Chamas” poderia ser um simples romance, mas a forma como Céline Sciamma conduz a narrativa de forma lenta, poética e contemplativa é o seu diferencial. O romance entre as duas mulheres surge de forma natural e é interessante ver a forma como as duas se observam e prestam atenção nos detalhes uma da outra, algo que também pode ser notado pelo espectador graças a ótima atuação das duas atrizes.

O filme de Céline Sciamma vai além e ainda acrescenta a história de Sophie, a serviçal que fica grávida e resolve fazer um aborto, contanto com a ajuda de Héloïse e Marianne. Essa parte da narrativa serve para deixar o longa ainda mais atual e também mostrar a sororidade entre as mulheres, algo sempre importante e mais urgente do que nunca.
O início do filme mostra que tudo indica que estamos diante de uma história triste, com uma pegada melancólica que o cinema francês sabe muito bem explorar. Mas é claro, estamos presenciando uma trama de um amor impossível. E se em pleno 2020 o romance entre duas mulheres ainda é um tabu, quanto mais no período que o longa se passa.

E no final “Retrato de uma Jovem em Chamas” ainda guarda uma cena forte e impactante, que através da música e sem diálogos é capaz de expressar uma emoção fascinante, que resume bem toda a narrativa. A diretora Céline Sciamma merece muitos elogios por conseguir explorar um gênero como o romance de forma inteligente e interessante, mas principalmente por mostrar que o amor entre duas mulheres faz sentido e é igual ao romance entre quaisquer pessoas, basta existir sinceridade, por mais impossível que pareça. E o quanto isso pode afetar a vida de uma pessoa.

Classificação:

Título Original: Portrait de la jeune fille en feu (França, 2019)
Com: Noémie Merlant, Adèle Haenel, Luàna Bajrami e Valeria Golino
Direção: Céline Sciamma
Roteiro: Céline Sciamma
Duração: 120 minutos

Um comentário:

  1. Amei esse filme, sério! Concordo com tudo o que você escreveu. A diretora foi excelente, as atrizes sensacionais. As expressões das atrizes, como elas conseguiam passar o sentimento e emoção só com o olhar... E o filme como um todo, delicado e forte ao mesmo tempo. Amei! Daria 5 ramones... Hihihi

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