“Um Lindo Dia na Vizinhança” poderia facilmente cair nos clichês de cinebiografia e contar da forma mais tradicional possível a história de Fred Rogers, um apresentador de tv de um programa infantil que é pouco conhecido no Brasil. Felizmente a diretora Marielle Heller, de "Poderia Me Perdoar?", é inteligente e fez o filme do ponto de vista de outro personagem, um jornalista que escreveu o famoso artigo sobre o apresentador.
O jornalista Lloyd Vogel é conhecido por ser ácido e “cruel” em seus artigos por ser implacável. Para melhorar sua imagem a revista que ele faz parte solicita que ele faça uma entrevista com Fred Rogers, uma figura amigável que aceita o desafio de “encarar” um entrevistador tão peculiar.
A vida de Lloyd é o foco do filme, já que o jornalista tem um filho recém-nascido, porém tem uma relação ruim com o próprio pai. É nisso que Fred se interessa, e o entrevistado se torna de alguma forma o entrevistador. Só que isso incomoda muito o jornalista, que não quer ninguém se metendo em sua vida particular, mas que na verdade apenas expressa a sua dificuldade em lidar com as próprias emoções.
O filme usa elementos do programa de tv de Fred Rogers e acerta ao iniciar a história com um trecho de um episódio para que o espectador que não conhece a figura de Rogers possa entender do que se trata. É um recurso inteligente já que o artista não é muito conhecido fora dos EUA. Mas Marielle também acerta em uma cena na qual Lloyd tem um sonho no qual se imagina dentro do programa, sendo um dos melhores momentos de “Um Lindo Dia na Vizinhança”.
A atuação de Tom Hanks também é soberba onde o ator realmente encarna Fred Rogers transformando-o em uma figura verossímil e não uma mera imitação de trejeitos da figura real. O carisma de Hanks é incrível e ele é a pessoa perfeita para dar vida ao lado gentil e afetivo de Rogers.
Matthew Rhys também está bem e passa bem a complexidade do seu personagem, que tem dificuldades em lidar com as próprias emoções. As cenas entre ele e Hanks são muito boas, já que os atores equilibram bem os antagonismos entre os personagens.
Em síntese, “Um Lindo Dia na Vizinhança” acerta ao fugir dos principais clichês de cinebiografias e apresenta uma bela história sobre empatia e da relação entre pai e filho, além de contar um pouco da história real de Fred Rogers. A cineasta Marielle Heller mostra que possível apresentar um pouco de criatividade em um gênero que tem dificuldade de escapar do “mais do mesmo”.
Com: Tom Hanks, Matthew Rhys, Susan Kelechi Watson e Chris Cooper
Direção: Marielle Heller
Roteiro: Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster
Duração: 109 minutos
Assisti ao filme no cinema. Gostei, mas não amei. Aí depois fui atrás do documentário sobre Fred Rogers, e gostei muito!
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