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terça-feira, 2 de novembro de 2021

Duna (Dune, 2021)

A trama de Duna é interessante e mistura política, família e religião, e o seu grande diferencial é a criação do universo onde se passa. Considerando que a obra literária de Frank Herbert foi publicada em 1965, a temática continua bastante atual. A história mistura elementos do passado (meio medieval) e visões futuristas, fugindo de alguns clichês de futuros distópicos onde a tecnologia é o principal elemento. Denis Villeneuve apresenta um longa-metragem que é ao mesmo tempo intimista e épico, e essa alternância só funciona graças ao seu talento como cineasta.

Na trama o Imperador resolve trocar o comando de Arrakis, um planeta desértico onde é feita plantação e extração de “especiarias” -- uma valiosa substância que prolonga a vida humana. Sai Harkonnen e assume a Atreides, comandada pelo duque Leto (Oscar Isaac), mas obviamente essa transição não é feita de maneira amigável. O protagonista da história é Paul (Timothée Chalamet), herdeiro da casa Atreides, que vem tendo visões sobre o futuro, graças ao poder herdado da mãe Lady Jessica (Rebecca Ferguson), que inclui também o uso da voz para controlar e dar ordens para pessoas. O jovem lida com a possibilidade de ser o Escolhido profetizado há milênios.

O básico da narrativa gira em torno da briga política entre as casas pelo controle de Arrakis, mas a jornada de Paul entra também na questão dos habitantes do planeta desértico, os Freeman -- liderados por Stilgar (Javier Bardem). A apresentação desse povo é um dos elementos mais interessantes de Duna, já que eles são inspirados no povo muçulmano, então é importante ver um filme americano retratá-los de forma positiva. Como o próprio nome diz, eles são os “homens livres”, que convivem em harmonia com a natureza mundo, se adaptando às condições adversas do local.

O fato do filme ser a primeira parte de uma história faz com que Denis Villeneuve tenha que apresentar o seu universo para o espectador, assim temos muitos diálogos expositivos para explicar alguns conceitos e funcionamentos desse mundo. A trama inicialmente parece complicada, mas o roteiro é eficiente em mostrar as funções dos personagens e os papéis que eles representam. No final do longa-metragem a personagem interpretada por Zendaya avisa ao espectador que “isso é apenas o começo”, o que deixa uma sensação um pouco frustrante de que a narrativa não está completa. Isso é um problema, mas que ao mesmo tempo faz com que Villeneuve tenha espaço para contar sua história de maneira mais aprofundada e felizmente a continuação já está confirmada para 2023.

Um dos destaques de Duna é o elenco composto por atores fantásticos e todos eles tem espaço para mostrar a importância de seus respectivos papéis. É até difícil citar os destaques, mas vale falar sobre alguns. Oscar Isaac mostra um duque Leto como uma figura mais “política” em relação ao controle de Arrakis, ao mesmo tempo em que apresenta a preocupação com a “distração” de seu filho Paul e suas visões. Já Rebecca Ferguson se apresentada dividida como Lady Jessica entre o papel de mãe e a religião, onde ela treinou o filho seu poder de controle e a possibilidade dele ser o Escolhido.
Agora sem dúvidas é na parte técnica que Duna se destaque, apresentando um visual fascinante com uma bela fotografia, um elemento que é sempre importante na filmografia de Denis Villeneuve. Outro destaque é o som, tanto a trilha de Hans Zimmer que deixa claro para o espectador o tempo todo que ele está diante de uma história épica, quanto o desenho sonoro, que impressiona pela riqueza de detalhes, como na diferença da acústica de certos lugares e como isso influência na voz dos personagens.

Em resumo, Duna é mais um acerto na filmografia de Denis Villeneuve, que impressiona pelo primor técnico e pelo elenco excelente, mas que “peca” por ser uma experiência incompleta como narrativa, apresentando apenas a primeira parte da história. É de se esperar que a continuação faça com que essa sensação seja esquecida e superada.

Classificação:


Título Original: Dune (Estados Unidos, 2021)
Com: Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Josh Brolin, Stellan Skarsgård, Dave Bautista, Stephen McKinley Henderson, Zendaya, Chang Chen, Sharon Duncan-Brewster, Charlotte Rampling, Jason Momoa e Javier Bardem
Direção: Denis Villeneuve
Roteiro: Jon Spaihts, Denis Villeneuve e Eric Roth
Duração: 156 minutos

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