A história de “O Último Duelo” se passa no século XIV, mas infelizmente ela ainda continua bastante atual. A trama gira em torno de orgulho, dominância masculina e o estupro de uma mulher, que tem grandes dificuldades para fazer com que acreditem em sua acusação.
O roteiro escrito por Ben Affleck e Matt Damon junto com Nicole Holofcener, que ajudou na construção das personagens femininas, divide a história em 3 partes. Na primeira temos a visão de Jean de Carrouges (Damon), um escudeiro que se casa com Marguerite de Thibouville por causa do dote dela e que busca a recuperação da sua reputação. Em seguida temos Jacques Le Gris (Adam Driver), outro escudeiro e amigo de Carrouges, mas que tem boa relação com o conde Pierre d'Alençon (Affleck) e com isso garante privilégios. Ele se “apaixona” por Marguerite e resolve consumar seu sentimento contra a vontade da moça.
Por último temos o ponto de vista de Marguerite, que “O Último Duelo” faz questão de enfatizar ser a verdade. Essa é a visão mais interessante já que percebemos principalmente como a relação dela com Jean não era das melhores. Sua acusação de estupro só pode ser levada adiante por ele, porque é um crime contra “propriedade”. Para solucionar a questão Carrouges desafia Jacques para um duelo até a morte, mas o pior e que caso ele perca, sua mulher também será penalizada com óbito.
O contexto histórico do pano de fundo de “O Último Duelo” é um pouco complexo, mas depois de um tempo o espectador se familiariza com o ambiente e foca mais na trama envolvendo os personagens. A parte técnica do filme é primorosa e ajuda na imersão dentro do período histórico com excelente fotografia, cenografia e figurino que reconstituem a época, além de efeitos visuais bem verossímeis.
O elenco também merece destaque, especialmente Jodie Comer que brilha no segmento final. Damon e Driver também estão muito bem, especialmente Adam pela dualidade de seu personagem. Até mesmo Ben Affleck com menos tempo em tela surpreende com um personagem interessante.
Apesar de focar no drama dos personagens, “O Último Duelo” também apresenta cenas de batalhas extremamente eficientes. O destaque fica por conta do duelo entre Jean e Jacques no final, mas Ridley Scott é inteligente e começa o filme mostrando a preparação para o combate, assim o espectador passa todo do longa-metragem na tensão e expectativa em relação ao resultado do conflito, além de descobrir o que motivou os personagens a chegar a esse ponto.
Em síntese, “O Último Duelo” surpreende por ser um filme de época que aborda uma questão que ainda em 2021 continua sendo um tabu: o estupro de uma mulher e também o papel dela dentro de uma sociedade comandada por homens. A cena do “julgamento” de Marguerite é um ótimo exemplo, onde ela é questionada somente por figuras masculinas e que questionam coisas como o fato dela achar Jacques um homem bonito. É triste pensar como até hoje elas continuam sendo julgadas de forma similar.
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