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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

X - A Marca da Morte

X - A Marca da Morte” mistura elementos de filmes pornográficos com o gênero terror. O longa apresenta uma história que se passa no final dos anos 1970 para falar de temas que continuam atuais em 2022. A influência da religião no conservadorismo e, principalmente, sexo, seja na liberdade sexual das mulheres ou entre idosos. O diretor Ti West faz uma alegoria interessante sobre esses assuntos. A narrativa principal gira em torno do gênero slasher, prestando homenagem, sobretudo, ao clássico “O Massacre da Serra Elétrica”.

Na trama, temos um grupo de pessoas que vai para uma fazenda gravar um filme pornô, sem que os donos da residência - dois idosos - saibam o que eles fazem. Quando os anfitriões descobrem as ações da turma, o elenco terá que lutar desesperadamente por suas vidas.

A protagonista da história é Maxine, interpretada por Mia Goth. Ela é uma jovem que almeja ser uma estrela de cinema, e quer conseguir isso estrelando em filmes pornôs. O desejo da fama de Maxine é uma crítica ao sonho americano, a ilusão capitalista em que basta se esforçar para conseguir o sucesso. Com a personagem, o diretor Ti West ironiza o tema e o faz sob o ponto de vista da indústria pornográfica.

Outro ponto interessante sobre Maxine é seu talento como atriz de filme pornô, que é apontado pelo produtor como o “Fator X”. Assim, o título original X fica com uma dupla referência, sendo tanto para esse talento da protagonista, como também da classificação etária nos EUA, que significa restrito e é usado por produções que tenham imagens “controversas” envolvendo principalmente sexo e violência, não por acaso os temas essenciais de “X - A Marca da Morte”.

Mia Goth é sem dúvidas o principal destaque do elenco. Ti West ainda utilizou um recurso interessante ao colocar a atriz para interpretar também a idosa Pearl, com uma maquiagem pesada que a deixa praticamente irreconhecível. O objetivo é fazer um paralelo entre as personagens, pois a senhorinha enxerga na jovem seu próprio passado de beleza e sexualidade.

Uma grande sacada de “X - A Marca da Morte” é desvirtuar algumas regras dos filmes slasher, sendo a principal delas aquela em que o assassino costuma matar jovens que fazem sexo, enquanto a mocinha virgem sobrevive no final, deixando claro o seu moralismo. Dessa forma, uma das primeiras pessoas a morrer é justamente a moralista.

Tecnicamente “X - A Marca da Morte” também impressiona, seja através da fotografia e da cenografia, que explora bem as nuances da fazenda com o uso de cores quentes durante o dia para simbolizar as cenas de sexo e as frias durante a noite para ilustrar as mortes. As sombras e a iluminação ajudam na criação do clima de tensão, mas é o vermelho do sangue que cria o clima de perigo, utilizado por exemplo de maneira inteligente ao transformar a luz clara do farol de um carro em avermelhada.

A trilha sonora também é um elemento de destaque, onde os temas originais de Tyler Bates e Chelsea Wolfe fazem uma mistura curiosa entre música dos anos 1970 que remetem aos filmes pornô, com tons soturnos de terror, criando justamente a mistura que define o tom da narrativa de “X - A Marca da Morte”. As escolhas de canções pop da época também contribuem para a imersão dentro do período.
Outro destaque técnico interessante é a montagem de David Kashevaroff e Ti West, que opta por começar do final da história onde o espectador já vê que ocorreu um grande massacre na fazenda. Isso é até motivo de piada de metalinguagem dentro da história, onde o personagem RJ Nichols (Owen Campbell) -- que é o diretor do filme pornô -- diz que esse tipo de recurso é utilizado para disfarçar problemas de orçamento de produções independentes. É curioso também notar o ponto de vista de RJ em como ele enxerga a produção como um “filme de arte” e não um pornô qualquer, algo que lembra bastante a trupe do filme “Boogie Nights” de Paul Thomas Anderson, que não por acaso também se passa nos anos 1970.

Por último é importante falar sobre a influência da religião no conservadorismo da população, que sem dúvidas é o que causa o ódio que move os idosos de “X - A Marca da Morte” a matar o grupo de visitantes. Em muitas cenas do filme vemos a tv mostrando um programa de tv onde um pastor prega contra o que ele acredita ser coisas do demônio. É difícil não fazer uma alusão aos tempos atuais, onde essa onda conservadora prossegue de forma maior e mais influente. Claro que na obra de Ti West ele exagera na violência para torná-la caricata, fazendo piada com os filmes slasher, mas é inegável que as motivações das ações dos idosos parece verossímil pela influência da religião.

Em síntese, podemos dizer que “X - A Marca da Morte” é basicamente um filme que mistura elementos de slasher e terror com pornô. Contudo, o diretor Ti West aproveita para incluir de maneira inteligente diversos temas interessantes e relevantes no pano de fundo da trama, transformando sua obra em um excelente longa-metragem, que vai além das convenções de gênero, entregando entretenimento e reflexão para o espectador.

Classificação:

Título Original: X (Estados Unidos, Canadá, 2022)
Com: Mia Goth, Jenna Ortega, Martin Henderson, Brittany Snow, Owen Campbell, Stephen Ure e Scott Mescudi
Direção: Ti West
Roteiro: Ti West
Duração: 106 minutos

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