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quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Priscilla (2023)

Sofia Coppola acertou em adaptar o livro “Elvis e Eu” de Priscilla Presley para o cinema, pois “Priscilla” faz um excelente contraponto e complemento ao filme “Elvis” de Baz Luhrmann. No longa-metragem de Sofia ela explora o ponto de vista da protagonista sobre o relacionamento dela com o Rei do Rock. E a cineasta se identifica com a personagem, colocando na história elementos que fazem parte da sua própria filmografia.

Sofia sempre explorou a solidão feminina e a relação delas com homens mais velhos. Em “Encontros e Desencontros” isso funciona muito bem ao mostrar uma mulher “perdida” em Tóquio ao viajar com o marido e encontrando conforto em um “amigo” mais velho, que estava também “sem destino” na cidade. Já em “Maria Antonieta” essa fórmula não funciona tão bem. No entanto, em “Priscilla” o estilo dela tem um bom resultado.

Priscilla e Elvis se conhecem na Alemanha, ela estava lá com a família (o pai era militar) e ele servindo o exército. Ela tinha 14 anos e ele 24. A diferença de idade obviamente influencia no relacionamento. A jovem ainda estava na escola enquanto ele já era um astro da música e do cinema. Os dois estavam “perdidos” em um país diferente de onde nasceram, então o primeiro ponto em comum era serem americanos. Priscilla queria ser uma adolescente comum enquanto ele queria alguém para conversar.

Apesar dos problemas, o relacionamento entre os dois se inicia, mesmo com os pais da jovem não sendo muito a favor. É quando Priscilla chega à casa de Elvis, a famosa mansão Graceland em Memphis, no Tennessee, que vemos a solidão da protagonista começar. E a forma como o rei do rock dita o relacionamento, onde ela deve se adaptar aos gostos e pensamentos dele. Assim ela usa as roupas que ele escolhe, pinta o cabelo do jeito que ele quer e tem que estar sempre disponível para ele quando ele estiver livre.

Assim vemos Priscilla realizando seu sonho de ser uma adolescente, finalmente saindo da Alemanha, mas ao mesmo tempo presa em uma gaiola enquanto espera seu “dono” chegar para “brincar” com ela. A forma como Sofia Coppola apresenta Graceland é brilhante justamente por mostrar todo o glamour do lugar, só que ao mesmo tempo exalta a solidão da moça, como se estivesse em uma prisão.

O roteiro da própria Sofia explora bem o ponto de vista de Priscilla, então não vemos um julgamento moral em torno da figura de Elvis. Enxergamos uma adolescente apaixonada se tornar uma mulher e que vê o amor em torno dele como algo bom. Obviamente chega um ponto que ela não aguenta, mas ainda assim a protagonista não deixa de amá-lo. Acompanhamos essa jornada de amadurecimento da protagonista em várias cenas que parecem uma compilação dos melhores e piores momentos do casal, mas a montagem ajuda a dar um bom ritmo à narrativa.
No início vemos alguns ciclos de repetição que começa a solidão de Priscilla enquanto aguarda o seu “príncipe encantado” chegar e depois ela aproveitando o máximo que pode os momentos ao lado do seu amor. E nesse meio tempo vemos o comportamento de Elvis, que alterna a paixão que sente por ela com o sentimento de dominação e raiva quando ela não faz o que ele quer.

Outro elemento importante é a trilha sonora, sempre algo que se destaca na filmografia de Sofia Coppola. Em “Priscilla” ela acerta em escolher canções de várias épocas para ajudar a ilustrar a trama. O fato da diretora não poder utilizar canções do próprio Elvis fez bem ao longa-metragem, pois assim a história não tira o foco da protagonista. Ainda assim vemos o cantor utilizar figurinos e outros elementos icônicos em torno da sua figura, sendo suficiente para o espectador lembrar que o rei do rock está presente na história.

O elenco é outro fator importante para o filme funcionar. Jacob Elordi explora bem a figura de Elvis, mostrando o quanto ele era capaz de ser amoroso, mas também tóxico para Priscilla, sem em nenhum momento parecer caricato. O trabalho que ele faz com a voz impressiona. A diferença de altura dele para Cailee Spaeny ajuda a deixar claro de forma metafórica como ele se impunha sobre ela. A atriz faz um trabalho fabuloso e sua aparência faz com que se transforme de uma adolescente para uma mulher de forma brilhante. O olhar, sua expressão corporal e sua forma de falar mostram bem a evolução de uma jovem tímida que aos poucos perde o medo de mostrar a sua própria voz. O figurino, maquiagem e cabelo contribuem para apresentar essa evolução da jornada da personagem.

Dessa forma, “Priscilla” é um excelente filme que mostra muito bem o relacionamento entre a protagonista e o rei do rock. Sofia Coppola inclui todos os elementos que se tornaram essenciais para criar seu próprio estilo de direção, fazendo com que esse seja seu melhor longa-metragem desde “Encontros e Desencontros”. A solidão feminina é retratada de forma brilhante.

Classificação:

Título Original: Priscilla (EUA, 2023)
Com: Cailee Spaeny, Jacob Elordi e Dagmara Domińczyk
Direção: Sofia Coppola
Roteiro: Sofia Coppola
Duração: 113 minutos

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