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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Pisque Duas Vezes

Pisque Duas Vezes” marca a estreia na direção da atriz Zoë Kravitz e no longa-metragem ela faz uma mistura entre “Glass Onion: Um Mistério Knives Out” e “Corra!”. Da obra de Rian Johnson ela pega a sátira ao mundo dos bilionários, enquanto do trabalho de Jordan Peele a inspiração é a crítica social. No entanto, Zoë mostra o ponto de vista feminino e apresenta um filme forte e impactante.

A protagonista da história é Frida (Naomi Ackie), uma jovem garçonete que tem interesse no bilionário Slater King (Channing Tatum). Ela trabalha em um evento no qual ele é o organizador e tem a oportunidade de encontrá-lo. Surge uma química entre os dois e o homem a convida para ir para sua ilha. A moça leva com ela a amiga Jess (Alia Shawkat). O local é totalmente paradisíaco e isolado. Junto com eles está um grupo de pessoas e a diversão é o que rege o ambiente.

Não demora para que surja um clima estranho no lugar, do ponto de vista da protagonista. A direção de Zoë Kravitz é inteligente na construção desse sentimento. Primeiro a montagem de Kathryn J. Schubert mostra uma rotina na ilha, onde as pessoas acordam, tomam sol na beira da piscina, bebem e à noite festejam sob efeito de um alucinógeno. Depois vemos essa rotina em outra ordem e a repetição passa a sensação da perda da noção de tempo. Tanto o espectador quanto a protagonista não fazem ideia de quantos dias se passaram. O desenho de som e a trilha sonora colaboram na criação desse tom de estranheza, especialmente quando algum sinal sonoro avisa de alguma mudança de cena.

A dinâmica entre Frida e Slater também é curiosa, pois existe um clima de paquera e sedução entre eles, mas que nunca se concretiza. Será que ele é apenas um homem respeitoso, que espera pelo melhor momento, ou realmente quer apenas ser um amigo?

A partir disso surgem muitos temas e revelar alguns deles podem estragar as surpresas da narrativa de “Pisque Duas Vezes”. Aqui aparece uma linha tênue e em se analisar o filme, pois apenas citar pode revelar elementos fundamentais do inesperado em relação à história. Sem dúvidas o principal se refere ao ponto de vista e a condição das mulheres dentro da sociedade. E nisso Zoë Kravitz acerta em cheio ao apresentar uma crítica social muito forte e impactante.
Além disso, é importante a figura do bilionário interpretado por Channing Tatum. O homem é dono de uma empresa de tecnologia que fez algo de errado, então faz um pedido de desculpas público e se afasta do comando da companhia. Decide então comprar uma ilha, onde pode viver em isolamento. Nas conversas com Frida ele diz que faz terapia, então o tema da saúde mental entra na trama de “Pisque Duas Vezes”. A forma como lidamos com traumas e o sentimento de culpa é uma pauta importante para entendermos melhor a intenção de Zoë Kravitz com seu filme.

Tudo isso funciona não só por causa da direção Zoë Kravitz, e sim também por causa do elenco de qualidade. Naomi Ackie é extremamente talentosa e desenvolve Frida de maneira brilhante, onde a personagem tem espaço para crescer e se desenvolver. Já Tatum mostra versatilidade ao criar uma figura ambígua, onde nunca sabemos suas reais intenções. Os coadjuvantes da mesma forma são muito bons, com destaque para Adria Arjona, que tem alguns dos melhores momentos do filme.

Em síntese, “Pisque Duas Vezes” é um filme que mistura bem o entretenimento e o impacto de uma crítica social. A diretora Zoë Kravitz acerta em sua estreia e mostra muito talento como cineasta. O roteiro escrito por ela e E.T. Feigenbaum desenvolve bem o mistério e a estranheza da narrativa, deixando o espectador na expectativa do que vai acontecer. E o resultado é surpreendente e impactante.

Classificação:

Título Original: Blink Twice (México, EUA, 2024)
Com: Naomi Ackie, Channing Tatum, Christian Slater, Simon Rex, Adria Arjona, Kyle MacLachlan, Haley Joel Osment, Geena Davis e Alia Shawkat
Direção: Zoë Kravitz
Roteiro: Zoë Kravitz e E.T. Feigenbaum
Duração: 102 minutos

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