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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Creed: Nascido para Lutar (Creed)

O drama do personagem de “Creed: Nascido para Lutar” é parecido com o do próprio filme em si. Donnie (Michael B. Jordan) quer virar um lutador de boxe sem usar o sobrenome Creed do seu pai Apollo que ele nunca conheceu, mas ele pede ajuda para Rocky (Sylvester Stallone) ser o seu treinador. Enquanto isso o filme quer criar uma nova franquia com um novo personagem, mas está inserido dentro do universo de Rocky Balboa e depende em parte do personagem para conseguir chamar a atenção enquanto tenta sair da sua sombra e mostrar o seu valor.

O diretor Ryan Coogler, que também escreveu o roteiro junto com Aaron Covington, teve uma ideia muito boa em continuar com a franquia de Rocky ao apresentar um novo personagem para seguir o legado dele. Então ele faz uma mistura de continuação com remake e homenagem principalmente ao primeiro filme. Já colocar Balboa como personagem secundário da história foi uma decisão mais arriscada, mas que funcionou muito bem. Isso diminui um pouco do peso da responsabilidade do filme e também dá espaço para que o novo protagonista consiga brilhar. Além disso, cria uma relação bem interessante entre o novo e o antigo misturando algo tipo pai e filho com a novidade do novo protagonista e também apresenta uma franquia clássica para a nova geração.

Donnie tem um drama parecido com o de Rocky, mas suas motivações são diferentes. O novo Creed nunca conheceu seu pai. Ele foi fruto de um caso que Apollo teve com uma fã. Passou a infância em orfanatos e reformatórios até ser adotado por Mary Anne (Phylicia Rashad), a viúva do lutador. O garoto teve a chance de seguir por outro caminho, mas o trabalho de escritório não o deixa feliz. Apenas algumas lutas ilegais de boxe no México parecem fazer sentido. Então ele resolve largar tudo para virar lutador e se muda de Los Angeles para a Filadélfia onde vai em busca de Rocky, a única conexão que ele tem com o pai. Ou seja, ele teve uma oportunidade de seguir por outro caminho, enquanto para Rocky o boxe era uma salvação de verdade para sua vida. Começa então a relação entre os dois, algo meio família tipo pai e filho, apesar da resistência inicial de Rocky e começa o treinamento de Donnie

O filme presta algumas homenagens e obviamente tem diversas referências a franquia. Interessante por exemplo mostrar um pouco de metalinguagem quando vemos a estátua de Rocky na Filadélfia, que foi construída de verdade na cidade em homenagem ao personagem do filme, com pessoas tirando foto e que ela existe também no universo do filme retratando um dos heróis da cidade. 

A trilha sonora de Ludwig Göransson consegue criar um clima interessante sempre parecendo que vai evocar a música tema de Rocky, ou talvez o próprio filme deixe a impressão que isso vai acontecer a qualquer momento, mas quando ele finalmente usa um trecho de "Gonna Fly Now" a emoção que a música provoca é impressionante e mostra o quanto ela é impactante e nos fazer relembrar de diversos momentos da franquia.

Continuando com a parte técnica, uma das cenas de destaque é uma das lutas de Donnie que é toda filmada sem cortes. A diretora de fotografia Maryse Alberti fez um ótimo trabalho ao manter a câmera perto dos atores criando um realismo impressionante a cena, principalmente quando acompanhamos a queda de um dos lutadores e praticamente sentimos o impacto do seu rosto na lona. Essa cena já vale o filme. Já na luta final a montagem de Claudia Castello e Michael P. Shawver opta por usar a fórmula básica, principalmente da franquia Rocky, ao mostrar todos os personagens de forma alternada para mostrar tanto a reação de quem está no ringue quanto dos que estão do lado de fora sofrendo com que está acontecendo na luta. Funciona bem, mas não tem o mesmo impacto e realismo.
Agora sem dúvidas o grande diferencial do filme é o roteiro que consegue equilibrar bem a história de origem do novo personagem ao inseri-lo no mesmo universo de Rocky. Foi uma ideia muito boa que deu um novo gás a franquia e também passa o legado adiante com um novo protagonista. Algo parecido com o que foi feito em “Star Wars – O despertar da força”. Os personagens são muito bem desenvolvidos e a história funciona apesar de em alguns momentos a repetição dos mesmos conflitos que Rocky enfrentou fazerem com que o filme perca um pouco a sua força. Como por exemplo, o fato de Creed ser um lutador novato que consegue a chance de enfrentar um lutador famoso para provar seu talento. Até a resolução é praticamente a mesma.

É claro que no final das contas quem faz mesmo a diferença é Sylvester Stallone com seu incrível carisma. Mesmo sendo o coadjuvante ele sempre rouba a cena e tem os melhores momentos do filme. Esse é sem dúvidas uma de suas melhores interpretações, seja como o personagem como da sua própria carreira. Ele é um ator totalmente subestimado, mas que aqui tem a chance de mostrar todo o seu talento na construção do personagem. E o drama e a luta que ele enfrenta no filme são bem interessantes fazendo um ótimo contraste com os conflitos do protagonista. Michael B. Jordan é um ótimo ator e ele consegue ficar de igual para igual com Stallone em cena. E olhe que isso não foi uma tarefa nada fácil já que Rocky já é um personagem consagrado.

Creed: Nascido para Lutar” vence seu desafio e mostra que tem talento suficiente para conseguir seguir o legado franquia de Rocky adiante por mais que não consiga sair totalmente da sombra dele, mas faz jus ao seu nome mostrando seus próprios méritos.

Título Original: Creed (EUA, 2015)
Com: Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson, Phylicia Rashad, Tony Bellew, Andre Ward, Ritchie Coster e Graham Mc Tavish
Direção: Ryan Coogler
Roteiro: Ryan Coogler e Aaron Covington
Duração: 133 minutos

Nota: 4 (ótimo)

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