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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Até o Último Homem (Hacksaw Ridge)

Até o Último Homem”, novo trabalho do diretor Mel Gibson, realiza um feito impressionante: ser um filme sobre um herói de guerra que não matou ninguém. A história tem elementos que Gibson costuma abordar em sua filmografia, como: religião, violência e sacrifícios do protagonista por causa de sua crença.

O filme conta a história real de Desmond Doss (Andrew Garfield), um adventista fervoroso que se alistou no exército durante a Segunda Guerra embora se recusasse a tocar em qualquer arma. Como ir para uma guerra sem utilizar qualquer tipo de armamento? O protagonista quer mostrar que isso é possível, apesar da descrença dos seus colegas. Ele é visto como um covarde por suas atitudes e é hostilizado por eles. E insistiu para ser enviado ao campo de batalha como um paramédico. Lá ele protagonizou atos extremamente heróicos, que seriam difíceis de se acreditar caso as cenas não fossem inspiradas em fatos reais.

O roteiro de Robert Schenkkan e Andrew Knight é extremamente simples em sua forma estrutural ao dividir a história em 2 atos. O primeiro se concentra em apresentar o seu personagem principal, seus relacionamentos e seu treinamento. Enquanto o segundo se encarrega de mostrar o combate em si.

A primeira parte o filme é eficiente em mostrar o passado do personagem. Isso é fundamental para apresentar suas motivações religiosas que não permitem concessões. Seu pai é o retrato de uma figura destruída pela guerra. Violento e sem ânimo para viver, desconta suas frustrações em sua família, principalmente em sua mulher. Esses abusos ajudam a tornar o protagonista em um religioso devoto. Já o interesse amoroso, interpretado por Tresa Palmer, influencia positivamente ao apoiar Desmond em suas decisões, mesmo que a própria não consiga entender completamente as motivações dele. A incrível atuação de Garfield traz ao espectador a credibilidade na pureza do personagem; seu sorriso transmite uma ingenuidade e carisma, fugindo do clichê caricato da figura do fiel fervoroso.

O mesmo não pode ser dito sobre seus colegas de pelotão. Suas frases e comportamento não tem a mesma sutileza dos outros personagens. O treinamento de Desmond utiliza clichês de filmes de guerra, principalmente o sargento interpretado por Vince Vaughn, que evocam clássicos como “Nascido para Matar”. De todo modo, esse segmento da narrativa cumpre bem o seu papel ao mostrar a pressão sofrida pelo protagonista durante o processo de treinamento. O tempo todo ele era forçado a desistir do exército ou da sua crença de não pegar em armas.
Ao chegar na parte da guerra, o diretor pode finalmente se dedicar ao espetáculo de violência. Gibson retrata o conflito de forma totalmente realista. Dessa forma, mesmo utilizando uma violência gráfica e detalhista, ela não parece gratuita. O objetivo é mostrar os horrores do combate. Assim, os sacrifícios pelos quais o protagonista passa são ressaltados, destacando também a dimensão da sua coragem. A montagem alterna bem entre cenas dos combates, com planos mais abertos, com pequenas interações entre os atores em planos mais fechados. Fortalecendo dessa maneira a ligação do espectador com os personagens.

Em contrapartida, a forma como o diretor retrata os soldados japoneses é extremamente caricata. Eles são mostrados como monstros saídos de um filme de terror, ainda que em poucos momentos os oponentes sejam levemente humanizados. Mas é pouco, comparado com o restante da narrativa e o desenvolvimento dos outros personagens.

Esse pequeno problema não chega a comprometer o filme. Gibson mostra que foi possível o protagonista conseguir realizar atos heróicos durante a guerra, sem pegar em uma arma sequer. E o diretor utiliza a iconografia religiosa de formas bem interessantes, como ao mostrar o protagonista curando a cegueira de um soldado, ou ao mostrar Desmond sendo carregado dando a impressão de estar sendo “elevado” ao céu, como se fosse um ser divino. O mais importante foi conseguir captar os feitos do personagem retratando de forma impactante e emocionante. E o melhor, uma emoção genuína mostrada na tela de forma brilhante.

O filme “Até o Último Homem” mostra que não basta apenas ter uma boa história. A forma como ela é contada é fundamental para conseguir emocionar a platéia de forma real, sem apelar para drama excessivo. O importante é encontrar o tom certo para construir a narrativa. Nisso, o diretor e o tema precisam estar em sintonia. E nesse caso, Gibson foi o diretor perfeito.

Título Original: Hacksaw Ridge (Austrália, Estados Unidos, 2016)
Com: Andrew Garfield, Hugo Weaving, Rachel Griffiths, Teresa Palmer, Nathaniel Buzolic, Luke Bracey, Ben Mingay, Luke Pegler, Michael Sheasby, Goran D. Kleut, Milo Gibson, Matt Nable, Richard Roxburgh, Robert Morgan, Sam Worthington e Vince Vaughn
Direção: Mel Gibson
Roteiro: Robert Schenkkan e Andrew Knight
Duração: 139 minutos

Nota: 5 (excelente)

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