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domingo, 25 de abril de 2021

Judas e o Messias Negro

Judas e o Messias Negro conta uma história importante sobre a luta dos negros nos EUA pela igualdade do ponto de vista de um homem que ajudou no partido dos Panteras Negras enquanto informava o FBI sobre suas atividades nos anos 1960. O filme de Shaka King faz um excelente estudo de personagem enquanto mostra um pouco da importância da figura de Fred Hampton, presidente do partido.

O protagonista é William O'Neal, um homem que era um ladrão de carros e que após ser preso pela polícia, se transforma em um informante do FBI. Sua missão era se infiltrar no partido dos Panteras Negras e relatar todas as atividades do partido. O drama de William é interessante, já que ele ficou totalmente dividido entre as questões da luta racial e a sua traição, enquanto era obrigado a repassar as informações para o agente Roy Mitchell.

Um detalhe que chama a atenção era a forma como William executava seus roubos, onde ao invés de usar uma arma, ele fingia ser um agente do FBI. O motivo era interessante, já que o alvo de suas atividades eram também negros, então para eles o poder de persuassão de um distintivo era maior do que de um revólver. Isso ilustra de maneira brilhante a relação entre a polícia e a comunidade negra, já que até hoje o tratamento da força policial sobre eles ainda é extremamente desigual e injusto.

Por causa dessa injustiça, não demora para que William se envolva totalmente nas atividades dos Panteras Negras, principalmente graças ao carisma e poder de fala de Fred. A figura do líder do partido é fundamental para o espectador entender a importância da sua luta. As cenas dos seus discursos impressionam e o trabalho do ator Daniel Kaluuya é incrível. O diretor Shaka King alterna bem entre focar no close do rosto, para que prestemos atenção nas palavras e na forma como elas são ditas, com o ponto de vista de alguém da platéia, para visualizarmos o impacto que a fala tinha nas pessoas.

O filme também foca no dilema de Fred, que fica dividido entre a luta da causa racial e a sua vida pessoal, com o seu relacionamento com Deborah. Contudo, o presidente do partido dos Panteras Negras tem consciência de que a causa está acima de sua própria vida, já que ele tem o poder de fazer alguma mudança em busca de igualdade racial.

Shaka King faz escolhas menos didáticas na narrativa, mas apresenta de forma competente o contexto histórico da luta racial. No entanto, ter um conhecimento prévio ajuda no entendimento da história como um todo. Judas e o Messias Negro foca nos personagens e nos seus dilemas, mostrando as consequências de suas escolhas em sua própria vida.

Para isso funcionar, o trabalho dos atores fez toda a diferença. As atuações de Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield são fantásticas. Kaluuya construiu Fred sem caricaturas, investindo bem no poder de fala e em como ele influenciava todos ao seu redor em torno da causa da luta racial. Já Stanfield teve o trabalho mais complicado, já que a figura de William é ainda mais complexa, e os detalhes da performance são importantes para apresentar para o público os dilemas de sua situação como informante.
Outro ponto importante é o agente Roy Mitchell interpretado por Jesse Plemons que mostra o ponto de vista do governo, mas de maneira humana e complexa, sem que pareça um vilão, já que as coisas não são tão simples na vida real. É interessante ver o ponto de vista dele e em como ele persuadia William a trabalhar como ele, seja falando dos problemas que ele teria indo para prisão por causa dos roubos, ou dizendo que está fazendo a coisa certa. Na visão de Roy o trabalho dos Panteras Negras é similar ao feito pela Ku Klux Klan, o que é totalmente absurdo, já que um quer a igualdade, enquanto o outro prega a supremacia.

Infelizmente esse é o tipo de pensamento que existe até hoje envolvendo questões sociais de igualdade racial, ou lutas políticas, como vemos no Brasil atual quando comparam o extremismo de direita do presidente Jair Bolsonaro com a esquerda moderada do ex-presidente Lula, como se fossem dois extremos.

Por isso um filme como Judas e o Messias Negro é importante, para mostrar ao grande público a importância da luta por igualdade racial e de como ainda estamos longe dela, ao observar o caso recente da morte de George Floyd. Ao conhecer esse pedaço da história da luta dos negros percebemos o quanto ainda é necessário mudar muita coisa para chegar próximo de algum tipo de igualdade. O diretor Shaka King faz isso com maestria mostrando duas figuras importantes e de como isso impactou as suas vidas e do impacto que suas ações tiveram na vida das pessoas ao seu redor.

Classificação:


Título Original: Judas and the Black Messiah (Estados Unidos, 2021)
Com: Daniel Kaluuya, Lakeith Stanfield, Jesse Plemons, Dominique Fishback, Ashton Sanders, Darrell Britt-Gibson, Lil Rel Howery, Algee Smith, Dominique Thorne e Martin Sheen Direção: Shaka King Roteiro: Will Berson e Shaka King, história de Will Berson, Shaka King, Kenny Lucas e Keith Lucas Duração: 126 minutos

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