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quinta-feira, 22 de abril de 2021

Meu Pai (The Father)

Lidar com o envelhecimento é complicado, especialmente ao apresentar problemas de memória, que podem decorrer de demência (uma condição em que ocorre perda da função cerebral). O filme “Meu Pai” do diretor Florian Zeller aborda esse tema com maestria e o cineasta adapta para o cinema a sua própria peça, dessa vez em outra língua: inglês.

Florian contou com a ajuda do roteirista Christopher Hampton para adaptar o texto para a língua inglesa e o motivo da tradução tem nome: Anthony Hopkins. O diretor queria a presença do ator na adaptação para o cinema e conseguiu. O investimento foi muito acertado já que a atuação de Hopkins é brilhante. Realmente ele foi a escolha perfeita para o papel do protagonista de “Meu Pai”. O filme mostra o drama Anthony (Anthony Hopkins), um homem de idade avançada que está lidando com problemas de memória. Quem cuida dele é sua filha Anne (Olivia Colman) e constatamos o quanto essa responsabilidade também afeta a vida dela. “Meu Pai” alterna o ponto de vista entre os 2 personagens, mas o protagonista é Hopkins. É através do seu ponto de vista que o espectador acompanha seu cotidiano e tenta entender o que é real e o que é confusão nas memórias dele. Dessa forma, a parte técnica de “Meu Pai” tem um papel fundamental na construção dessa “simulação” do que está se passando na cabeça de Anthony. Primeiro o design de produção ao apresentar o apartamento onde ele mora e aos poucos notamos algumas pequenas mudanças. Existe a dúvida se o imóvel é dele ou dela e essas alterações confirmam essa confusão. Em seguida o uso das cores, seja nas paredes do local ou no figurino dos personagens, principalmente no de Anne. A cor da roupa indica a confusão em relação a linha do tempo da narrativa, sinalizada através da mudança ou repetição. Por exemplo, ela está com uma roupa azul, então quando ela aparece novamente com a mesma roupa, fica o questionamento se é o mesmo dia ou outro trocado. Outro elemento crucial é a montagem Yorgos Lamprinos, que consegue manter a dinâmica da narrativa, mas aos poucos utiliza alguns cortes aparentemente sem motivo, para simular a confusão temporal do protagonista. Lentamente o espectador também perde a noção da passagem de dias e não sabe mais quanto tempo se passou. A construção dessa sensação é fundamental para que o público se sinta imerso no “universo” de Anthony e tenha um pouco da noção da situação que ele está experienciando.
Ou seja, essa importância da parte técnica é interessante pois mostra que
Florian Zeller não quis fazer uma simples “peça filmada”, ele realmente adaptou o teatro para o cinema usando a linguagem cinematográfica para amplificar a experiência em torno da condição mental do protagonista. Para completar, temos o trabalho do elenco. A performance de Anthony Hopkins é soberba e ele desenvolve o personagem de maneira impressionante. A mudança de humor e todas as suas nuances são apresentadas de maneira orgânica, e através dos detalhes aos poucos nos envolvemos com sua condição mental. É um exercício de empatia para o público, já que sentimos quase na pele o seu drama. Olivia Colman também está magnífica! O sentimento da filha é tão complicado quanto o do pai, já que fica o dilema entre seguir em frente com a própria vida ou continuar se dedicando primordialmente às necessidades do seu genitor. Em síntese,  “Meu Pai” é um filme excelente e o diretor Florian Zeller conseguiu construir muito bem o drama do protagonista e sua condição mental. A adaptação do teatro para o cinema aumenta a imersão do público em relação ao cotidiano de Anthony. A narrativa ainda acha espaço para a jornada da filha, fazendo com que o espectador sinta na pele de ambos os pontos de vista. Para completar, o elenco maravilhoso confirma a reunião perfeita de todos os elementos que resultam em uma admirável obra cinematográfica.
Classificação:


Título Original: The Father (França, Reino Unido, 2020)
Com: Anthony Hopkins, Olivia Colman, Mark Gatiss, Imogen Poots, Rufus Sewell e Olivia Williams

Direção: Florian Zeller

Roteiro: Florian Zeller e Christopher Hampton

Duração: 97 minutos

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