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domingo, 24 de abril de 2022

Drive My Car

O filme “Drive My Car” de Ryusuke Hamaguchi tem uma história complexa e cheia de camadas, assim suas quase 3 horas de duração se justificam para dar conta da construção dos personagens e da narrativa. É uma trama complexa e intrigante que aborda temas como sentimento de perda, relacionamentos e do poder da arte no ser humano.

A introdução, que dura por volta de 30 minutos, tem como objetivo apresentar o personagem principal Yūsuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima), um ator de teatro que é casado com uma roteirista, mostrando a relação dele com a esposa e um pouco da ligação dele com e peça “Tio Vânia” do russo Anton Tchekhov. Algo que chama a atenção é a forma como o personagem pratica as falas da peça ao usar uma gravação em fita K7 em que a esposa fala as vozes dos outros personagens, dando o espaço para que Kafuku possa praticar suas falas enquanto dirige seu carro.

Em seguida, é apresentada a história principal, que gira em torno da produção de uma nova adaptação teatral da peça de Tchekhov, desta vez sob comando de Kafuku e acompanhamos o processo de escalação do elenco e os ensaios. Ele pede para os produtores do espetáculo para ficar hospedado longe do local da produção, assim ele pode manter sua rotina de ensaio das falas enquanto dirige. Contudo, ele é obrigado a utilizar os serviços da motorista Misaki Watari (Tōko Miura) por motivos de segurança.

Assim, o filme explora tanto a produção da peça como a relação de Kafuku e Misaki dentro do carro, onde o relacionamento começa distante, mas aos poucos surge uma conexão entre eles. Curiosamente, o roteiro escrito pelo diretor Ryusuke Hamaguchi utiliza elementos do conto “Drive My Car” de Haruki Murakami e mistura com componentes da obra de Tchekhov, construindo uma trama cheia de camadas de maneira inteligente e intrigante. O ritmo da narrativa se desenvolve sem pressa, dando tempo para o espectador absorver as informações e imergir no universo da história.
O trabalho do elenco é muito bom e a dupla Hidetoshi Nishijima e Tōko Miura faz um trabalho excelente de atuação, além de terem uma química muito boa. As conversas dentro do carro são muito boas e além do trabalho dos atores para manter o ritmo dos diálogos interessante sem ficar entediante, é importante também o papel da fotografia e da montagem, para alternar entre ângulos e ponto de vista para favorecer a dinâmica do bate-papo.

A trilha sonora de Eiko Ishibashi também tem um papel fundamental na narrativa para ajudar o compor o tom de “Drive My Car”, que apesar de em muitos momentos optar pela não utilização das músicas, quando a trilha surge é justamente para pontuar determinados pontos da história para o espectador.

Em síntese, “Drive My Car” é um filme brilhante, que consegue ser profundo e emocionante, construindo de forma correta e sem pressa uma trama cheia de detalhes e nuances, apresentando um estudo de personagens fascinante. Uma história cheia de detalhes e intrigante, desenvolvida de maneira inteligente e que conta com um elenco bastante afiado. Difícil chegar ao final do filme sem se sentir minimamente impactado pela narrativa.

Classificação:


Título Original: ドライブ・マイ・カー (Japão, 2021)
Com: Hidetoshi Nishijima, Tōko Miura, Reika Kirishima, Park Yu-rim, Jin Dae-yeon, Sonia Yuan, Ahn Hwitae, Perry Dizon, Satoko Abe e Masaki Okada
Direção: Ryusuke Hamaguchi
Roteiro: Ryusuke Hamaguchi
Duração: 179 minutos

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