O documentário “Escrevendo com Fogo” mostra o jornal indiano independente formado apenas por mulheres chamado Khaba Lahariya durante o processo de transição para o mundo digital. A ideia é que as matérias passem a ser feitas através de vídeos para serem publicadas na Internet. Parece algo simples e natural no mundo atual onde tudo acontece na velocidade da rede mundial de computadores, mas a questão é a realidade difícil na Índia para as mulheres.
O filme de Sushmit Ghosh e Rintu Thomas começa em 2016 e foca em algumas das jornalistas do Khaba Lahariya para não só apresentar as dificuldades dessa transição, envolvendo o aprendizado do uso de celulares, edição de vídeos, troca de mensagens, etc, mas principalmente nos obstáculos enfrentados por elas devido à sua realidade.
A principal questão para se entender “Escrevendo com Fogo” é compreender a estrutura socioeconômica das castas, que apesar de proibidas ainda moldam a sociedade. As jornalistas do Khaba Lahariya são Dalit, que são consideradas pela sociedade indiana como impuras e por isso são excluídas e descriminadas. Isso influencia no seu modo de vida, pois só sobram para elas os piores trabalhos, resultando em uma condição de vida extremamente miserável e com exclusão social.
Dessa forma, para muitas delas esse trabalho no jornal é uma forma de conseguir uma vida um pouco melhor, além de terem a oportunidade de ajudar os seus iguais ao denunciar os problemas que eles enfrentam em seu cotidiano. Como uma delas diz: "Ter poder é muito importante. Ser jornalista me dá poder para lutar por justiça”. Além do combate ao machismo da sociedade em que as mulheres que trabalham não são bem vistas, já que o papel delas é apenas de esposa e de dona de casa.
“Escrevendo com Fogo” é muito didático e eficiente, contextualiza o espectador sobre a realidade do país e da divisão das castas, apresenta bem as personagens e seus dilemas e para completar mostra a evolução do jornal na migração para o mundo digital expondo o impacto da publicação na vida das pessoas e o crescimento de sua importância. Os diretores Sushmit Ghosh e Rintu Thomas constroem muito bem a narrativa de maneira impactante e emocionante, exibindo para o espectador uma realidade que apesar de suas particularidades, infelizmente tem muitas semelhanças com outros lugares, como o Brasil.
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