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segunda-feira, 13 de março de 2023

Entre Mulheres (Women Talking)

O filme “Entre Mulheres” da diretora Sarah Polley mostra literalmente mulheres falando, fazendo jus ao seu título original Women Talking, por quase 2 horas e o espectador escuta atentamente um grupo ponderando sobre o que fazer em uma terrível situação.

Elas fazem parte de uma colônia religiosa ultraconservadora e isolada que descobriu que estavam sendo atacadas e estupradas pelos homens do grupo enquanto dormiam, que as sedavam para que não reagissem. Para piorar eles negavam o ocorrido dizendo que era imaginação delas, mas a situação se complica quando algumas aparecem grávidas, sendo que ainda assim eles negavam afirmando ser uma punição divina. Então o que elas deveriam fazer? Esse é o ponto de toda a conversa.

As mulheres desse grupo não têm direito a educação, assim não sabem ler e nem tem ideia de como é o mundo fora da colônia. Isso obviamente dificulta ainda mais a tomada de decisão, já que para votar sobre o que fazer é necessário que sejam feitos desenhos para cada opção disponível. São três: ir embora e deixar tudo para trás, ficar e perdoar os homens ou então ficar e lutar. Cada uma delas tem seus prós e contras, dessa forma as líderes de algumas das principais famílias da colônia se reúne secretamente em um celeiro para ponderar sobre a melhor opção.

O principal fator complicador é a própria religião, pois para elas isso ainda é algo fundamental e que norteia suas vidas. Afinal de contas, o sentimento de raiva é muito forte, tanto que uma delas afirma que se ficar irá se tornar uma assassina.

A diretora e roteirista Sarah Polley se inspira no livro Women Talking de Miriam Toews, sendo que ele é baseado em fatos ocorridos na Bolívia em uma comunidade menonita. Ao transportar a trama para os EUA a essência se mantém, pois o tema abordado é universal.

Por se tratar de uma conversa em grupo feita por diversas personagens, Polley poderia facilmente transformar o filme em uma “peça filmada”. Felizmente ela é inteligente que apresenta uma montagem ágil alternando entre cada uma das protagonistas, na maior parte em planos fechados próximos de seus rostos para que possamos focar nas expressões faciais e no sentimento de cada fala. Mesmo filmando em um local fechado, ela opta por uma fotografia onde temos uma razão de aspecto com um “retângulo” mais fino para que não tenhamos uma sensação de claustrofobia. Outro detalhe importante é o uso de um tom de cores meio azulado e saturado, dando um sentimento melancólico às imagens, além de dar uma impressão de falta de cores naquele mundo.
O roteiro de Polley também equilibra bem as falas de cada protagonista, assim cada uma das atrizes tem o seu momento de brilhar e juntas compõem muito bem suas personagens, mostrando muita química e o sentimento de sororidade entre elas. A construção da narrativa também é interessante ao focar nas conversas onde muita coisa fica subentendida, além de apresentar ótimas reflexões sobre o mundo em que vivem e das opções que têm para escolher.

Assim Sarah Polley apresenta em “Entre Mulheres” uma obra que reflete sobre a atualidade onde a extrema direita e o conservadorismo avançam no mundo, enquanto as mulheres ainda lutam por igual e além da condição de vítimas. É um filme que apresenta algum otimismo e esperança onde a união e a sororidade são fundamentais para elas sobreviverem à uma sociedade que ainda é extremamente machista e dominada pelo patriarcado.

Classificação:


Título Original:Women Talking (EUA, 2022)
Com: Rooney Mara, Claire Foy, Jessie Buckley, Judith Ivey, Ben Whishaw e Frances McDormand
Direção: Sarah Polley
Roteiro: Sarah Polley
Duração: 104 minutos

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