O roteiro escrito pela própria Gerwig em parceria com o marido, e também cineasta, Noah Baumbach, desenvolve a história da Barbie que vive no mundo da Barbilândia onde as mulheres estão no comando e as bonecas acreditam que influenciaram o mundo real de forma a promover a valorização das mulheres. Já os homens Ken são figuras infantilizadas, que querem apenas chamar a atenção das fêmeas. O lugar funciona bem, mas do nada a protagonista Barbie Estereotipada (Margot Robbie) sofre um incômodo e perde a “perfeição”.
O problema está conectado com sua dona no mundo real, então a Barbie resolve ir lá descobrir o que está acontecendo. O Ken (Ryan Gosling) não resiste e vai junto, mesmo contra a vontade inicial da moça. Quando eles chegam em Los Angeles é que o filme mostra seus melhores momentos e o choque de realidade de ambos. Para ela é assustador notar como ela é observada pelos homens como se fosse um objeto, enquanto ele se surpreende ao descobrir que naquele local são os homens que mandam.
Apesar da estranheza, a Barbie não desiste e vai atrás da jovem Sasha (Ariana Greenblatt) e da mãe dela Gloria (America Ferrera). No entanto, quando elas voltam juntas para Barbielândia é que a confusão se forma de vez ao encontrar o lugar no profundo caos dominado pelos homens.
Barbie também encontra espaço para criticar a própria Mattel, através da figura da versão fictícia da empresa interpretado por Will Ferrell. Ele é um homem imaturo e “ingênuo” que não demonstra ter nenhuma noção do que faz, mas é o líder de uma companhia que só tem homens na diretoria.
O que não falta são piadas de metalinguagem com o universo da Barbie, assim a diretora Greta Gerwig mostra uma incrível sensibilidade com a história que reconhece as qualidades e os problemas envolvendo a boneca da Mattel. Temos também diversas referências pop, desde vestidos usados pelas personagens que são os mesmos dos brinquedos, a homenagens a clássicos do cinema, especialmente à musicais. A cena da batalha dos Kens mesmo é um bom exemplo disso.
Na parte técnica Barbie também é brilhante em todos os aspectos. A cenografia de Sarah Greenwood brinca com a artificialidade dos brinquedos da boneca da Mattel, que mesmo ainda parecendo ser um brinquedo de criança, mantém a verossimilhança daquele universo. O uso dos tons de rosa é muito bom, não só dos cenários, quanto do figurino de Jacqueline Durran. A fotografia de Rodrigo Prieto capta bem esse universo, especialmente o contraste com o mundo real, que é feito de maneira orgânica.
Outro ponto importante é a trilha sonora, tanto os temas compostos por Mark Ronson e Andrew Wyatt, quanto as canções pop de cantoras como Lizzo e Dua Lipa (que faz uma ponta no filme). Elas ajudam a criar a atmosfera da narrativa, que mistura fantasia com realidade, além de dar a Barbie um tom de musical, sem perder a verossimilhança.
Por último, é importante também falar do elenco. Margot Robbie está incrível, com um carisma excepcional. Ela consegue construir uma mulher crível, apesar de ser uma boneca e que é incrivelmente humana. Já Ryan Gosling mostra toda a masculinidade frágil do Ken em um papel que ele não tem medo de abraçar os absurdos do personagem. O restante do elenco também está muito bem e cada um deles tem o seu momento de brilhar, mesmo com menos tempo na tela, como America Ferrera, Kate McKinnon e Michael Cera.
Assim, Barbie é sem dúvidas um dos melhores filmes de 2023. A diretora Greta Gerwig mostra mais uma vez o seu talento, se consagrando como uma das mais importantes da sua geração. Ela consegue misturar homenagem com crítica de forma brilhante e isso com certeza não foi uma tarefa fácil.
Classificação:
Com: Margot Robbie, Ryan Gosling, America Ferrera, Kate McKinnon, Issa Rae, Rhea Perlman, Michael Cera e Will Ferrell
Direção: Greta Gerwig
Roteiro: Greta Gerwig e Noah Baumbach
Duração: 114 minutos
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