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terça-feira, 1 de março de 2016

A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl)

A história do pintor é Einar Wegener é fascinante por ele na verdade ser uma mulher presa no corpo de um homem que por muito tempo teve dificuldade em aceitar a situação. Ele na verdade era Lili Elbe e foi uma das primeiras pessoas a fazer a cirurgia de mudança de sexo. Se isso ainda hoje é algo polêmico, imagine então a situação nos anos 30. Só que o filme "A Garota Dinamarquesa" do diretor Tom Hooper pega essa história extraordinária e a conta de maneira simplista sem conseguir captar todas as nuances e complexidades da mesma.

O problema começa pelo fato de que Einar/Lili não é o personagem principal, apesar do filme se vender assim. Na verdade quem é a principal é Gerda Gottlieb, a esposa. É algo parecido com o filme “A Teoria de Tudo”, curiosamente também “protagonizado” pelo ator Eddie Redmayne. O drama é contado do ponto de vista dela. É algo que poderia funcionar, mas que já minimiza um pouco a situação de Einar/Lili mostrando mais o lado da esposa sem saber exatamente o que fazer para ajudar o marido do que do próprio marido lidando com a sua própria sexualidade.

Tudo começa como uma brincadeira entre Einar e Gerda. Ele pinta paisagens e ela pinta pessoas. Quando uma modelo, por acaso irmã dela, não aparece ela pede que ele use roupas femininas para ser o(a) modelo. A partir disso surge o interesse dele pela coisa e acaba criando o “personagem” Lili, que na verdade acaba virando a sua personalidade de verdade.

O roteiro de Lucinda Coxon não consegue desenvolver essa transformação da descoberta desse lado feminino através da brincadeira. Faltou bastante delicadeza e sutileza para construir bem o personagem. Do jeito que é retratado acaba soando artificial e até mesmo um pouco caricato. Nisso o trabalho do ator Eddie Redmayne também contribui. Ele começa bem e consegue mostrar em pequenos detalhes o interesse de Einar em roupas femininas. Mas ao realizar a transformação sua atuação acaba não funcionando tão bem por não conseguir passar a complexidade do personagem e exagerando nos maneirismos.

Alicia Vikander entrega uma atuação impressionante e consegue passar muito bem a situação vivida por seu personagem. No início Gerda acha divertida a brincadeira de ver seu marido vestido de mulher. Isso acaba servindo de inspiração para seu trabalho e é quando ela finalmente consegue o reconhecimento como artista. Só que quando ela se da conta da verdade fica totalmente assustada com a realidade e sem saber o que fazer. Teria ela sido de alguma forma a responsável pela situação? Ela consegue passar essa sensação.

Além de problemas na construção dos personagens, o roteiro também tem dificuldade em conseguir criar um bom continuísmo no desenrolar da própria trama e não consegue situar bem certos pontos da história de maneira satisfatória. Em determinado ponto os personagens vão para outra cidade, Paris, e de repente voltam para Copenhague sem muita explicação. Isso também é prejudicado pela montagem de Melanie Oliver que não consegue dar um ritmo para que essas mudanças ocorram de forma natural e orgânica.
Continuando na parte técnica, a fotografia de Danny Cohen é bem irregular e em alguns momentos faz uns enquadramentos bem estranhos e nem um pouco bonitos. Mas em algumas tomadas externas ele consegue captar bem a beleza, principalmente na parte história de Copenhague que é muito bonita. Na parte final do filme ao mostrar a paisagem pintada por Einar e depois um lenço voando é de uma pobreza e preguiça visual bem grande, além de ser totalmente clichê e não utilizado de maneira satisfatória. Já a trilha sonora de Alexandre Desplat ajuda a criar um clima de melodrama que tenta emocionar de maneira forçada e artificial sem sucesso.

No final das contas o filme do diretor Tom Hooper tem alguns bons momentos, mas o resultado é bastante irregular. Ele pega uma história complexa e interessante de uma mulher presa no corpo de um homem, somados a complicada situação da esposa, e acaba transformando num melodrama meio brega, simples e artificial. É uma pena ver que ele não está evoluindo bem em sua filmografia. Começou muito bem com “O Discurso do Rei”, continuou num bom nível em “Os Miseráveis”, mas errou bem a mão aqui. Quem acaba salvando em parte o filme é a incrível atuação de Alicia Vikander. Se o filme fosse tão corajoso quanto sua personagem o resultado teria sido bem diferente.

Título Original: The Danish Girl (Reino Unido, Estados Unidos, Bélgica, 2015)
Com: Alicia Vikander, Eddie Redmayne, Ben Whishaw, Pip Torrens, Amber Heard, Adrian Schiller, Matthias Schoenaerts e Sebastian Koch
Direção: Tom Hooper
Roteiro: Lucinda Coxon (baseado no livro The Danish Girl de David Ebershoff)
Duração: 119 minutos

Nota: 2 (regular)

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